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Comando de Caça aos Comunistas

Quadrilha de matadores de aluguel

Depois de toda a trama golpista, e ainda diante dos desdobramentos que podem culminar em condenações, a Polícia Federal (PF) deflagrou no dia 28 de maio, nos estados de São Paulo, Mato Grosso e Minas Gerais, uma operação contra um grupo que se autodenominava “Comando C4” (Comando de Caça a Comunistas, Corruptos e Criminosos), que funcionava como uma agência de extermínio, que vendia serviços para monitoramento e assassinato de autoridades.

O nome desse grupo vem do notório grupo paramilitar CCC (Comando de Caça aos Comunistas), que atuou durante a ditadura militar, mais exatamente entre as décadas de 1960 e 1980, que defendia o regime de exceção, com atuação violenta, praticando assassinatos, sequestros, torturas, atentados, depredações e ameaças. Isso tudo contra estudantes, políticos, religiosos, artistas e etc, que eram contra a ditadura, incluindo a invasão do Teatro Galpão, em São Paulo, com a agressão do elenco da peça Roda Viva, de Chico Buarque.

Desta vez, o caso envolve tudo o que há de mais atávico e atrasado no país, ou seja, uma quadrilha de matadores de aluguel, especializada em espionagem ilegal e homicídios por encomenda. O grupo cobrava R$ 250 mil para monitorar ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), com preços de R$ 150 mil para senador e R$ 100 mil para deputado. Tal grupo foi descoberto em decorrência de uma investigação sobre venda de sentenças por servidores do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e do Tribunal de Justiça do Mato Grosso (TJ-MT), que tramita em sigilo.

Esse grupo de matadores de aluguel é composto por militares da ativa e da reserva, além de civis, com uso de algumas táticas como uso de drones e de garotas de programa para vigiar e coletar informações sobre autoridades públicas. Essa estrutura foi revelada durante a operação da PF que investiga o assassinato do advogado Roberto Zampieri, em dezembro de 2023, morto com 10 tiros em Cuiabá, no Mato Grosso.

Por sua vez, no celular da vítima foi que se desbaratou todo o esquema que levou ao grupo de extermínio, visto que a PF descobriu registros de negociações para a venda de sentenças judiciais, além de referências às espionagens de autoridades. Por fim, o Comando C4 se tratava de um grupo bem organizado, com emprego de táticas militares, métodos de infiltração social, com alta capacidade bélica, tendo 5 fuzis de sniper com silenciador, 15 pistolas com silenciadores,  um lança rojão tipo AT-4 (que é um lança granada que pode destruir carros blindados), explosivos para detonação à distância, além de quantidades não determinadas de minas magnéticas (que são minas submarinas) e de munição.

Dentre os bens do grupo também havia cinco veículos para a ação de snipers móveis, além de mais cinco carros médios e pequenos. Eles também tinham telefones via satélite para a comunicação entre os membros da quadrilha, dois drones que se somavam a rastreadores veiculares para caça de alvos, e realizavam constantes mudanças de casas e de apartamentos para evitar flagrante, usando disfarces, além do uso de iscas para vítimas como garotos e garotas de programa.

Por sua vez, o ministro do STF, Cristiano Zanin, determinou que a PF cumprisse cinco mandados de prisão preventiva, seis mandados de busca e apreensão, medidas cautelares como recolhimento noturno em casa, proibição de contato entre os investigados e a retenção de passaportes, além de quatro ordens de monitoramento eletrônico.

Entre os presos na operação estão Aníbal Manoel Laurindo, produtor rural, suposto mandante do homicídio de Zampieri; Coronel Luiz Cacadini, militar da reserva, suposto financiador do crime; Antônio Gomes da Silva, acusado de ser o atirador; Hedilerson Barbosa, suspeito de ser o intermediador e dono da arma usada no assassinato; e Gilberto Louzada da Silva, que tem a participação ainda sob apuração.

A PF continua a investigação sobre venda de sentenças, em que o Comando C4 facilitava o esquema ao conectar operadores jurídicos a interessados em decisões favoráveis mediante pagamento, de acordo com anotações e mensagens encontradas, e tal esquema ia do Tribunal de Justiça do Mato Grosso, com desdobramentos que também alcançavam o Superior Tribunal de Justiça (STJ).

A Polícia Civil investigava o assassinato do advogado Roberto Zampieri quando se deparou com este esquema de venda de sentenças e o caso passou para o Supremo Tribunal Federal (STF), com autorização do ministro Cristiano Zanin. Por sua vez, tanto o nome do ministro como o de Alexandre de Moraes aparecem em anotações apreendidas pela Polícia Federal (PF), e a investigação ainda apura se houve monitoramento de ambos os magistrados.

O advogado Roberto Zampieri, que foi executado, era apontado como figura central nesse esquema de venda de sentenças, e a Polícia Federal ainda indica que o grupo atuava na lavagem de dinheiro através de empresas de fachada e financeiras. Tal dinheiro vinha de propinas pagas por essas sentenças no STJ). A investigação, por fim, envolve como suspeitos empresários, lobistas, magistrados, assessores parlamentares e chefes de gabinete, com crimes que incluem organização criminosa, violação de sigilo funcional, corrupção e exploração de prestígio.

Obs: Os ataques contra a ministra Marina Silva, enquanto participava de audiência na Comissão de Infraestrutura do Senado, em que o presidente do colegiado, Marcos Rogério (PL-RO), com uma descompostura e falta de decoro, ao falar para a ministra se colocar “em seu lugar”, então, não apenas distorce, mais uma vez, o regimento do decoro, que, nestas últimas legislaturas do lacre, derreteu, e vimos o parlamento virar um ambiente ginasial, mas vai além.

Nesse caso, temos não apenas este ponto mencionado de comportamento parlamentar, mas de comportamento social e moral, com cenas de misoginia e machismo, em que não é possível fazer abstração da figura de ministra ou mulher, pois não foi sequer uma discussão acalorada que, no caso, não importaria gênero, cor ou sexualidade, todos estão na chuva para se molhar, mas sim um uso semântico com vários tons acima, e atávico, produto de uma ordem que vem da colônia e de suas capitanias, do “sabe com quem tá falando” ou do “se ponha no seu lugar”, em novidades aviltantes, como o que a gente ouve agora por aí, de uma concepção podre de elitismo, que agora usa “CLT de m…” como ofensa e xingamento).

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
Blog: http://poesiaeconhecimento.blogspot.com

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