Assim como aconteceu no governo Paulo Hartung, o ex-chefe do Ministério Público Estadual, Fernando Zardini, mesmo na posição de procurador especial, volta à cena para mudar o curso de uma investigação. O objetivo do grupo de Zardini, que reza na cartilha de Hartung, é esvaziar as investigações da força-tarefa que apura as denúncias de corrupção no sistema estadual de internação de adolescentes em conflito com a lei (Iases).
Desde a última quinta-feira (6), quando o delegado Rodolfo Laterza entregou o relatório final das investigações ao MPES, o grupo de Zardini iniciou uma manobra para desqualificar as investigações da Polícia Civil.
Enciumado com o trabalho do delegado, que diga-se de passagem tem sido bem feito, os membros do MPES ligados a Hartung, que sempre agiram com parcialidade para atender ao jogo do ex-governador, voltaram a se movimentar para reassumir o controle das investigações.
A exemplo da época em que o MPES estava nas mãos de Zardini e Hartung era o governador, a investigação pode acabar encalacrada em uma gaveta perdida da instituição. Assim como o seu antecessor, Casagrande parece estar guinado a jogar na regra velha. Nessa regra, os membros cooptados do MPES represam os casos dos aliados que precisam de proteção e perseguem os desafetos políticos do ex-governador.
No caso da Operação Pixote, o secretário de Justiça Ângelo Roncalli, o deputado estadual Josias Da Vitória e o juiz Alexandre Farina são os próximos da fila. Com a senha na mão, eles estão na porta do MPES à espera de proteção.
Talvez o próprio Casagrande, quando nomeou Laterza para comandar as investigações, não imaginasse que o delegado, sem qualquer estrutura, conseguisse chegar tão longe e envolver nas investigações figuras importantes.
As declarações do governador, no feriado de Sete de Setembro, reforçam a manobra de blindagem. Ele deixou isso evidente ao afirmar que Roncalli permaneceria no cargo, pelo menos até que o MPES apresentasse o seu parecer sobre o caso.
Ora, com essa declaração Casagrande desqualifica o trabalho da sua própria criação, a força-tarefa, para pôr o MPES à frente das investigações. Em outras palavras, o parecer final sobre as investigações foi entregue de bandeja ao MPES, que passa a ter todas as condições para dar “um novo” encaminhamento ao caso. Provavelmente, na contramão da linha de investigação traçada pelo delegado.
Entretanto, o arranjo de Hartung, reproduzido agora por Casagrande, já não conta mais com os serviços do Tribunal de Justiça, que sob o comando de Pedro Valls, vive outros tempos.
O arranjo, agora claudicante, pode tropeçar justamente no TJES, que passa a ser a última reserva de moralidade neste Estado capaz de evitar que essa investigação não termine em pizza, assada, como nos velhos tempos, nos fornos do MPES.