Quarta, 24 Abril 2024

Concursos imperiais

 

Numa sociedade ideal, quem trabalha para o governo deve ser admitido por concurso público imparcial e transparente, conforme determina a lei. Primeira pergunta que não cai nas provas para um cargo público: O concurso para o qual estudei e me endividei é imparcial e transparente? Segunda pergunta que não cai nas provas: Onde se iniciou o sistema de testes de avaliação de competência e conhecimentos para o preeenchimento de um cargo público?
 
 
Se cair na sua prova, não aposte nos Estados Unidos ou Inglaterra. A China foi o primeiro país a criar um sistema de exames para selecionar as melhores cabeças para fazer girar a máquina administrativa do estado. Os chamados Exames Imperiais foram criados em 605, na Dinastia Sui, foram pouco usados na Dinastia Tang e ganharam força na Dinastia Song, influenciando grandemente a sociedade e a cultura do país.
 
 
Desbancando uma tradição milenar, os exames de admissão acabaram com a influência das famílias aristocratas, cujos membros ocupavam essas posições, dando vez aos proprietários de terras, aos burocratas, e à numerosa classe rural. Os exames para seleção de oficiais para o serviço público foram responsáveis por grandes mudanças na estrutura do poder chinês, sendo usados muito depois que essas dinastias desapareceram.
 
 
Países vizinhos como a Coreia e o Vietnam copiaram o sistema, menos para usar os bons serviços dos mais capazes,  mas como instrumento de repressão política, mantendo os funcionários sob rígido controle de tempo, recursos e ideologias. Na Dinastia Tang os exames foram usados para conter a influência dos militares aristocratas. Graças a essa estratégia, a classe intelectual dominou a sociedade. Nas dinastias seguintes o sistema já estava tão solidificado que minou a vida intelectual e contribuiu para diminuir o poder autocrático do imperador.
 
 
Os exames imperiais tiveram grande importância social, política e econômica no país, e com algumas alterações e interrupções, durou 1300 anos. O estilo moderno de selecionar funcionários para o serviço público evolveu indiretamente dos exames imperiais. A Roma antiga adotou o sistema, que se espalhou pela Europa, mas a seleção era baseada nos nomes de família  ou  no “quem indica”, e não apenas no mérito.
 
 
Antes os cargos públicos eram comprados, e era comum o funcionário pôr outros para fazerem o serviço em seu lugar, ficando com o salário. Esse estilo foi também muito usado na Inglaterra do século 18, e nos dias de hoje se chama “delegar poderes”. Uma regra dos concursos imperiais que se esticou para a política moderna, todas as províncias do país deviam estar representadas, e o número de contratados obedecia a cotas proporcionais à população de cada lugar. O motivo, mais uma vez, era o controle político de todas as regiões.
 
 
Na obesa máquina burocrática dos governos modernos,  vagas e oportunidades não faltam, bastando a dobradinha estudo & sorte para garantir a qualquer um o sonhado emprego vitalício. Como sempre se confia mais no estudo que na sorte, o comércio de apostilas e cursinhos vai de vento em popa – todos querem investir no estilo de vida imperial, com aposentadoria garantida e salário caindo na conta todo mês. Chova ou faça sol.

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