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Condenação dos golpistas

O fracasso eleitoral e do golpe é uma dura lição

A cadela do fascismo está sempre no cio, e o preço da liberdade é a eterna vigilância. Foram condenados os principais articuladores do golpe contra o regime democrático e o sistema republicano. Dentre eles, Jair Bolsonaro (PL) recebeu uma dosimetria longa, porém, nada ainda garante que o ex-presidente irá para o regime fechado. Pode ser que, com algum laudo médico, alinhado com uma defesa de advogados argutos, ele descole uma prolongada estadia em prisão domiciliar, na qual já está.

Tal expediente já foi usado por Paulo Maluf e Fernando Collor. Até mesmo o finado General Pinochet, ao ouvir o tilintar do molho de chaves do carcereiro, logo se pôs a mancar, gemer de dor, e também descolou sua salinha com televisão e cama feita, no seu lar, doce lar. Fernando Collor, por exemplo, como um bom caçador de marajás que se preza, está de frente à praia, na orla alagoana de Maceió. Esta técnica do coitadinho que manca, inclusive, foi uma técnica também utilizada por Maluf, que não é bobo nem nada.

Jair Bolsonaro tem como trunfo a sua barriga operada, e pode escapar da cana dura, pois atua como um tigre de papel, choramingando a sua queda, bem diferente daquele presidente de maus bofes, insensível aos milhares de mortes da pandemia e com declarações chocantes em meio a tragédias que ocorriam diariamente, patrocinando invencionices amalucadas como cloroquina e ivermectina, numa necropolítica bananeira que virou piada na Europa.

Era a tempestade perfeita de um presidente exótico, de um populismo de liderança carismática e decadente, para insuflar um setor da população composto de provincianos e pedestres, em meio ao caos de morte de uma pandemia mundial. Ao passo que a cleptocracia vendia a sua alma a um xucro apoiado numa política econômica de um falastrão que teve a sua planilha derretida diante do inaudito, provando que algo como controle de gastos pela inflação durante vários anos é uma ideia que ignora do que se trata o futuro, um cenário agitado que cega crédulos e videntes.

Bananinha, por seu turno, já é um famigerado lesa-pátria, lacaio de Trump, ao lado de um patético neto de ditador, que agora, depois de cair na real, está ocupado com coisas fundamentais como denunciar tweets anti-trump de influencers brasileiros e quetais, para que não entrem nos Estados Unidos, para denotar o nível de patetice da dupla dinâmica.

Pois, como disse Flávio Dino, quem poderia mudar o julgamento dentro do Brasil senão o Mickey, ou ainda, como disse Moraes, o Pateta. Contudo, parece que a patota de malandros agulhas, amigos de basfonds do Zé Carioca, é que agora estão numa fria, e a cantilena de que tudo foi uma pensata, uma anotação no querido diário, simplesmente não colou. Parece que o mundo, como se dizia por aí, tanto não é bobo, como também não começou ontem, como se pudesse ter a sua História civilizatória cabendo numa edição de bolso.

Portanto, se a moda pega, só se poderia julgar o golpe se este tivesse sido consumado, isto é, após a tomada de Brasília pelo Exército. Vamos lá, vejam isso, o então governo de exceção se autojulgaria, vendo se seria autocondenado ou não. E a contradição vem logo a seguir, ao se tramar pela anistia, antes mesmo da condenação, o que é uma admissão de culpa e uma saída pela tangente de covardes que, na verdade, foram e estão sendo julgados por uma tentativa de golpe, em obediência à lógica, ao óbvio ululante.

Pois, o terraplanismo grotesco é usar esta falácia de circo dos horrores, uma farsa e um flagrante da decadência cultural e intelectual que foi toda essa história, um hiato dentro da Nova República, que tenta criar uma tautologia, uma petição de princípio, em que eu só posso ser acusado de assassinato se o meu morto falar, pois se eu mato a democracia, só assim eu poderia ser julgado em ampla defesa, só que, no entanto, com a fumaça dos fuzis no cangote das ruas, e que agora estariam em convulsão, na batalha campal contra o autoritarismo, a sanha totalitária.

Por sua vez, a massa extremista também não receberá anistia. O cenário mais provável é a resposta democrática, que passou por um teste no fio da navalha, atravessando o rubicão, e diante de um punhal que passou rente, através de um voto vencido do então chefe da Marinha, onde de fato se decidiria o destino do país. E essa massa amorfa, alienada, que foi liderada por mentores que sabiam o que faziam, desde os acampamentos de frente aos quarteis etc, estão encarando esta mesma realidade, depois de uma fantasia voluntarista, um recreio fantasmagórico do estado mental da face mais abissal e ignara do bolsonarismo.

Não há como tergiversar e buscar acordo com o intervencionismo, o fracasso eleitoral e do golpe é uma dura lição para os que, em tal anelo, para uns, disparate para uns tantos, e o ardil reacionário, através de suas lideranças, configurou um caminho que pretendia um golpe clássico, militar, sem qualquer caráter autocrata, uma vez que as tentativas de Bolsonaro de manietar a Corte Suprema falharam, e seu governo, diante de erros de comportamento dentro da pandemia, plantou a derrota eleitoral e, como maus perdedores, tramaram o golpe, primeiro como revisionismo eleitoral, e depois no plano de ir às vias de fato pelo punhal verde e amarelo.

Portanto, essa alvorada da condenação dos traidores da pátria, chauvinistas fanáticos de um patriotismo falso, e que se vende ao Uncle Sam na primeira esquina, é mais uma vez a máxima da permanente vigilância, diante de uma cadela que sempre está no cio, que não descansa, e quem defende a Democracia e a República também tem que estar em forma, sem dormir diante da História, e do testemunho distópico que foi tudo isso.

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
Blog: poesiaeconhecimento.blogspot.com

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