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Consciência Negra e resistência

O 20 de Novembro nos convoca à mobilização conjunta

Por José Carlos Pigati

O Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, não é apenas uma data no calendário. É um chamado à memória, à luta e à ação. Marca o assassinato de Zumbi dos Palmares, em 1695, líder de um dos maiores símbolos de liberdade da história brasileira: o Quilombo dos Palmares. Zumbi representa a resistência organizada, a coragem coletiva e a recusa em aceitar a desumanização imposta pela escravidão. Celebrar esta data é, portanto, celebrar a vida, a força e a dignidade do povo negro. É reafirmar o compromisso de enfrentar o racismo estrutural que ainda molda nossa sociedade.

Em 2024, pela primeira vez, o Dia da Consciência Negra foi celebrado como feriado nacional em todo o Brasil, após a aprovação da Lei nº 14.759/2023. Não é um simples feriado: é o reconhecimento oficial de uma luta que vem de séculos, que ecoa nas vozes, nos corpos e no trabalho do povo negro que construiu este país.

A luta antirracista não se faz isoladamente. O povo trabalhador, com seus movimentos sociais organizados, principalmente o movimento sindical, junto com importantes vertentes do movimento negro, defende uma visão que conecta o combate ao racismo à luta de classes. Essa perspectiva entende que, no Brasil, o racismo não é apenas um problema moral ou comportamental. É um instrumento histórico de exploração. A população negra sempre foi colocada na base da pirâmide social para garantir ao capitalismo brasileiro uma mão de obra barata, descartável e profundamente vulnerabilizada.

Salários menores, maiores índices de desemprego, sub-representação política, violência policial, falta de acesso a serviços públicos de qualidade, nada disso é acidental. É o resultado de um sistema que utiliza o racismo para aprofundar a exploração econômica.

A superação do racismo exige muito mais do que discursos. Exige decisão política, estrutura e investimentos em criação de oportunidades. Exige políticas públicas de redistribuição de riqueza, cotas raciais, educação antirracista, reforma das instituições e políticas de acesso ao emprego, à renda, à terra e ao poder. Exige garantir a presença negra onde historicamente lhe foi negada: universidades, lideranças políticas, espaços de decisão, produção cultural e científica. Isso não é concessão: é justiça histórica.

A luta antirracista é, portanto, parte fundamental da luta pela emancipação da classe trabalhadora. Quando trabalhadores e trabalhadoras, negros, brancos, indígenas, se unem para enfrentar as desigualdades, constroem as bases de uma sociedade mais humana e igualitária. Mas essa unidade precisa reconhecer que o racismo é uma ferida aberta dentro da própria classe trabalhadora. E só enfrentando essa ferida com seriedade, solidariedade e organização, podemos avançar.

O 20 de Novembro nos convoca a essa mobilização conjunta. Convoca a erguer a cabeça, fortalecer nossa consciência e transformar indignação em ação. Convoca a lembrar que Zumbi não lutou sozinho e que nenhuma luta popular se vence na solidão.

Que a celebração do Dia da Consciência Negra seja mais do que memória: seja movimento. Movimento que afirma a dignidade do povo negro; movimento que combate a exploração e a injustiça; e movimento que constrói esperança e disputa o futuro.

Porque a luta por igualdade racial é, também, a luta por um Brasil mais justo, digno e verdadeiramente livre para toda a classe trabalhadora.

Viva o dia 20 de novembro, viva Zumbi dos Palmares, Chico Prego, Eliziário, João da Viúva e tantos outros heróis que continuam esta luta no seu dia a dia!

Racismo estrutural

No Brasil, está presente em praticamente todas as dimensões da vida social, porque o país foi construído sobre bases escravocratas, coloniais e excludentes que ainda hoje moldam instituições, comportamentos e oportunidades. Ele opera como uma engrenagem silenciosa, que privilegia alguns e limita outros, e se manifesta hoje no mercado de trabalho, onde as pessoas negras ganham, em média, menos da metade do que pessoas brancas pelas mesmas funções, estão concentradas nas ocupações mais perigosas, precarizadas ou informais e à sub-representação negra em cargos de liderança, gerência, direção e nas profissões mais valorizadas.

Na Segurança Pública, os jovens negros são as principais vítimas de homicídio no país. A cada operação policial em periferias, quem mais morre são homens negros e pobres. A seletividade penal recai com mais força sobre pessoas negras, do enquadro à prisão.

Na Educação, os estudantes negros têm mais dificuldade de acesso a escolas de qualidade, e as taxas de evasão escolar são maiores entre crianças e jovens negros, devido a desigualdades econômicas e falta de suporte. Mesmo com as políticas de cotas, ainda há sub-representação negra em cursos muito concorridos, como Medicina e Engenharia.

Na Saúde, as essoas negras têm menor acesso a atendimento médico de qualidade. A mortalidade materna é muito maior entre mulheres negras. Ainda há preconceitos naturalizados na saúde, como a ideia de que pessoas negras “suportam mais dor”.

Na Moradia e Territórios, a população negra é maioria nas periferias, favelas e regiões com menos infraestrutura. A urbanização brasileira expulsou comunidades negras dos centros e consolidou bairros segregados. A violência urbana concentra-se justamente nesses territórios.

Na Representação Política, as pessoas negras, apesar de constituírem a maioria da população, são minoria no Congresso, nas assembleias, nas câmaras e em cargos altos na estrutura do Estado. As barreiras econômicas e políticas dificultam candidaturas negras.

Na Cultura e Mídia, a estética branca ainda domina padrões de beleza e representação. Papéis de destaque em novelas, filmes, publicidade e jornalismo raramente são ocupados por pessoas negras. A cultura negra é consumida, mas nem sempre reconhecida ou valorizada.

Na Economia, a renda média das famílias negras é muito menor. Os negros têm mais dificuldade de acesso a crédito, financiamento e capital para empreender. A desigualdade no Brasil tem cor: a pobreza é majoritariamente negra.

Na Justiça e instituições, as decisões judiciais, abordagens policiais e políticas públicas refletem vieses raciais. As instituições brasileiras, criadas no pós-escravidão, nunca foram reformadas para corrigir essas desigualdades.

No cotidiano e relações sociais, as microagressões, piadas racistas, estereótipos, suspeição automática, “boa aparência”, “cabelo inadequado”, vigilância exagerada em lojas, tudo isso compõe o racismo cotidiano que naturaliza desigualdades.

O racismo estrutural não é um sentimento individual. É uma máquina social que organiza o acesso à vida digna no Brasil.

Ele encontra-se: nas instituições, nas políticas públicas, nos padrões econômicos, na distribuição de oportunidades, nos comportamentos naturalizados e na própria organização das cidades.

Que todos os dias tenhamos consciência da necessidade de combatermos o racismo estrutural, uma luta de todos!

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