Cordão dos insatisfeitos
O governador Renato Casagrande se mostra um incansável na desafiante missão de manter a base aliada intacta para repetir, em 2014, o cenário vitorioso de 2010, quando foi eleito governador no primeiro turno, como se diz na gíria, “com os pés nas costas”.
Se de um lado Casagrande vem costurando com zelo e dedicação as alianças políticas que vão lhe garantir sustentação em 2014, de outro, já começa a enfrentar uma forte pressão que vem das ruas. Sinal do desgaste entre o governo e o funcionalismo público.
E o cordão dos insatisfeitos cresce a cada dia. Nesse grupo estão os servidores públicos estaduais, os policiais civis e militares e os servidores da Assembleia Legislativa. Só para citar os insatisfeitos da semana.
Todos esses trabalhadores sabem que o momento de pôr as pautas de reivindicações na mesa é agora, véspera de ano eleitoral.
Os servidores públicos estaduais que fizeram uma manifestação no Centro de Vitória na última quarta-feira (15), voltam às ruas nesta terça-feira (21) para pressionar o governo, que sinalizou um reajuste de 4% para os mais de 87 mil servidores. Eles querem quase o dobro: 7,5%.
Antes que o governo alegue que o fim do Fundap e a ameaça dos royalties deixaram vulnerável o caixa, os servidores usam a “farra dos incentivos ficais” para rebater as justificativas do governo e reivindicar um reajuste mais gordo.
Nas faixas e nos gritos de guerra, que têm tomando conta das ruas, os servidores lembram ao governo que o Estado renunciou quase R$ 20 bilhões em ICMS para beneficiar as empresas instaladas no Estado, se referindo às isenções do Invest-ES, denunciadas por este jornal.
Não bastasse o descontentamento dos servidores públicos, policiais civis e militares também já estão com as mangas de fora faz algum tempo.
O problema dos delegados de polícia não é dinheiro, mas não é menos complicado para o governo. Eles exigem a carreira jurídica. A categoria reclama que o governo resiste em enviar o projeto de lei para a Assembleia Legilslativa. Os delegados, segundo o Sindicato, reivindicam a mudança desde 2012, mas têm sido ignorados.
Nesta segunda-feira (20), os delegados fizeram novos protestos, que têm sido sistemáticos. Eles não descartam a possibilidade de suspender as atividades na próxima sexta-feira (24) ou mesmo deflagrar uma greve pra valer. Seria um verdadeiro caos para o Estado em meio a um quadro de violência que se compara ao de uma guerra civil.
Independente da demanda dos delegados, a insatisfação dos policiais civis, no geral, também parece estar no limite. Nesta terça-feira (21), eles se reúnem em assembleia geral unificada.
Na assembleia, os policiais vão discutir a negociação unificada com os policiais militares e o governo, através de um documento construído pelas entidades. Eles querem a paridade e a integralidade da aposentadoria dos policiais civis; o aumento linear dos servidores públicos; e a unificação dos agentes, investigadores e fotógrafos. Só isso!
Acabou? Ainda não. Na quarta-feira (22), é a vez dos policiais militares, representados pela Associação dos Cabos e Soldados da Polícia Militar e Bombeiro Militar do Estado (ACS/PMBM/ES), se reunirem em assembleia geral no Teatro Universitário da Ufes. Na pauta, o realinhamento salarial dos policiais militares do Estado.
A corporação cobra do governo o cumprimento da promessa feita e até agora não cumprida, o que tem gerado prejuízos e insatisfações da categoria.
A palavra “cobrar”, aliás, não sai da boca do funcionalismo. Para completar o cordão dos insatisfeitos com Casagrande, os servidores da Assembleia também aproveitam a semana reservada às cobranças para dar uma cutucada no governo.
Eles ainda têm esperança de desenrolar o imbróglio dos 11,98% referente à reposição de perdas de planos econômicos. A demanda dos servidores da Assembleia é um pouco mais complexa para o governador, pois esbarra num campo mais delicado, o político. Nesta segunda (20), alguns deputados já começaram a manifestar insatisfação com o caso. Eles querem saber por que o governador ainda não sancionou o projeto.
Casagrande está numa encruzilhada. Se não se sentar rapidamente na mesa de negociação com os servidores, terá problemas sérios pela frente. Se atendê-los, resolve parcialmente o problema, porque outros segmentos, professores ou profissionais da saúde, só para citar dois, podem despertar a qualquer momento dispostos a colocar o bloco na rua e engrossar o cordão dos insatisfeitos.
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