Terça, 14 Mai 2024

Culinária de ocasião

 

Pode-se censurar os americanos por tudo, mas temos que reconhecer-lhes a incrível capacidade de fazer dinheiro com coisas que os outros jogariam no lixo. Quem imaginaria que um alimento pouco nutritivo e altamente calórico , insipido e insosso como o hamburguer poderia criar uma das maiores empresas do mundo? E uma bebida com gosto de remédio, calórico e com nome de produto ilegal?
 
Temos que admitir, eles não entendem de paladar, mas sabem fazer dinheiro como ninguém. Quando morei em Niterói, um cara criativo inventou uma carrocinha-forno, que assava empadinhas na hora. Ficava na esquina mais movimentada de Icaraí, e tinha sempre fila aguardando a próxima fornada. Há muito tempo não vou a Niterói e não sei se as empadinhas ainda estão na esquina, mas certo é que não se desdobrou em franquias.
 
Com certeza foram devoradas pela gula dos burguers, que podem não ser tão saborosos, mas entendem de mercado. Nossa culinária mais criativa é o churrasquinho de esquina, carinhosamente chamado de churrasco de gato. Por que nunca exportamos o knowhow? Podem não primar pela higiene, ou garantir a boa procedência da matéria prima, mas são gostosos, baratos, e na competição entre os fastfoods, na era da pressa, não se sairiam mal.
 
Mas ninguém pensou em expandir para outros mercados, talvez por causa das experiências negativas de outros empreendimentos. Uma rede de comidas árabes, tão tipicamente brasileiras, se aventurou pelos shoppings internacionais. Tinha tudo para dar certo, mas não deu. Sobrevive em poucos locais, atraindo apenas brasileiros saudosistas. O mesmo aconteceu com nosso imbatível pão de queijo, que entrou para a lista dos que tentaram, investiram em bons locais e em propaganda, para morrer cedo.
 
Outra maravilhosa criação brasileira que encanta os turistas é o suco de frutas feito na hora. Refrescantes e saudáveis, seja verão ou nem tanto, convidam o passante para a tal pausa que refresca entre o escrit??rio e um caixa eletrônico, entre a visita ao dentista e pegar filhos no colégio… Estrangeiros que nos visitam os põem no primeiro lugar na lista do que mais gostaram. No entanto, alguém levou a ideia para o exterior, e não deu certo.
 
Na contramão dessas tentativas frustradas, ou quase, as churrascarias tipicamente brasileiras têm se mantido, algumas sobrevivendo há bastante tempo e recebendo bons comentários nas páginas gastronômicas dos jornais. No entanto, entretanto, mesmo cheias, o que se ouve é o doce som do
 
velho português que nos legou Caminha. Os poucos locais que as frequentam são geralmente levados por amigos brasileiros.
 
A última incursão nos shoppings americanos é o longo pescoço da Giraffa, lutando por um lugar ao sol no sacrossanto paraíso dos hamburgues e hot dogs. Por enquanto, os únicos comentários que ouvi é que os preços são altos, principalmente para o nicho das fastfoods. Vamos torcer para que vá em frente e desenterre a caveira-de-burro com que nossos cardápios deparam no exterior. Enquanto isso, a cozinha asiática já está tão americanizada quanto a italiana.
 
Meu sonho mesmo é ver uma franquia da nossa fabulosa casquinha de siri conquistando os paladares internacionais, tão popular quanto os tacos mexicanos. Imagina, um imenso caranguejo com o nome Zé da Casquinha escrito na casca, em verde neon. Em letras menores: Feitas com caranguejos do Amazonas, sem mercúrio, hormônios e antibióticos. Resistir quem há de?

Veja mais notícias sobre Colunas.

Veja também:

 

Comentários:

Nenhum comentário feito ainda. Seja o primeiro a enviar um comentário
Visitante
Terça, 14 Mai 2024

Ao aceitar, você acessará um serviço fornecido por terceiros externos a https://www.seculodiario.com.br/