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De débitos e dúvidas

Nesse tempo a gente ainda não acreditava nos micróbios

Tem gente que gosta de flores, tem gente que gosta de pássaros. Eu gosto de palavras. Com elas crio histórias, sou inventora de bruxarias. Mas tudo que se conta nem sempre é verdade e tudo que se inventa nem sempre é mentira. Vou com o vento, flanando pelo dia a dia catando palavras que viram frases, sentenças, conceitos, como em um quebra-cabeças – uma peça aqui outra ali, e no final tudo se encaixa – o que foi inventado já aconteceu com alguém e eu não sabia.

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O tempo corre ao sabor do vento e mais escritores escrevem e mais palavras inventam, e de tal forma elas são embaralhadas e plagiadas que já não se sabe quem inventou primeiro o já inventado antes. Um escritor é, antes de tudo, um mentiroso criador de verdades. E se o fato ocorreu ou a pessoa existiu, ele deixa de ser escritor, vira repórter. Por isso não sou fã de literatura baseada em “fatos reais”. Qual a graça?

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Tem gente que gosta de números. A imagem que ilustra a coluna de hoje já está ultrapassada. Ou seja, já caiu do galho, como a camélia que morreu, como cantava Orlando Silva. Mesmo assim, o autor da reportagem no New York Times nos informa que esse valor é maior do que as fortunas combinadas do Musk, do Larry Ellison, do Mark Zuckerberg, do Jeff Bezos, e das outras 18 pessoas mais ricas do mundo. O débito do Brasil, no momento em que rabisco essas informações inúteis era de 9 trilhões, portanto, não estamos tão mal assim. Mas enquanto o relógio roda já foram adicionados alguns bilhões. Os governos cantam: penso que devo, estou pagando; penso que pago, estou devendo.

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Tem gente que gosta de coisas passadas, já mortas, que tiveram fim, como cantava Dorival Caymi. Nos meus tempos escolares, o bilhão só era usado nas aulas de aritmética: Põe mais três zeros e vira bilhão, ensinava a professora, e a gente pensava nas estrelas – a única necessidade de conhecer essa quantia inimaginável e inalcançável: o infinito tem bilhões de estrelas. Nesse tempo a gente ainda não acreditava nos micróbios.

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Quanto ao trilhão, só era usado pelas mães para repreender um filho levado-da-breca: Já disse um trilhão de vezes pra você não fazer isso! Hoje não apenas os governos, mas até alguns indivíduos notoriamente muito ricos já chegaram lá. Outro dia ouvi um economista preocupado com a aceleração desenfreada das moedas, perguntando como se escreve quatrilhão. O assistente respondeu que esse valor ainda não foi inventado. P.S.: escrevi errado e o corretor não me corrigiu: ainda não está programado para assimilar esse palavrão.

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Tem gente que gosta de fofocas. O presidente Trump não morreu! Se anda sumido e ainda não enviou mais um ultimatum para o presidente Lula, é porque está ocupadíssimo com os preparativos para o casamento da filha. Enquanto isso, as empresas de turismo já estão faturando alto com o novo pacote-vacina: viagens de um dia para vacinar nos países subdesenvolvidos que priorizam a saúde pública.

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