Desamparo social
“Tudo farinha de um saco só”. A expressão é de um amigo, em resposta a esclarecimentos que lhe fiz sobre a Previdência Social e a cruel e enganadora reforma, para ele a salvação da pátria, irremediavelmente quebrada, como acredita.
A frase refere-se à enorme sonegação de impostos, atualmente na casa dos R$ 2,4 trilhões, segundo levantamentos da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Previdência instaurada no Congresso Nacional. Diante da impossibilidade de contestar os números, o amigo usa o argumento inoculado em sua mente e ataca: “Por que o PT não cobrou?”
Com o gesto, exibe a marca do viés torto do engodo configurado em falas de agentes públicos, despreparados e hipócritas, e em conteúdo da máquina midiática sustentada pelo mercado financeiro, beneficiários maiores das alterações previstas, a um passo de virarem lei.
Disse-lhe que também os governos do PT falharam, embora tenham realizado ações com esse objetivo, sem obter êxito, por várias razões, a aposta na coalização política, esquecendo a luta de classes, entre as principais. A sonegação está enraizada nas elites brasileiras desde as capitanias hereditárias.
É um cancro que corrói a economia, acrescentei, com a cumplicidade explícita de quem governa o país por mais de 500 anos, ou seja, as elites atrasadas que controlam o Congresso, os tribunais e, principalmente, os meios de comunicação, com os quais elas demonizam quem se levanta contra esse status quo e fazem algumas pessoas acreditarem que o Brasil está quebrado e vejam a salvação na reforma da Previdência, que, na realidade, só vai beneficiar os bancos e os grandes empresários.
A marca de país quebrado, apesar de reservas externas de 386,7 milhões de dólares, é imposta ao país por esse governo para facilitar a entrega de ativos como o pré-sal à Exxon e à Shell, a Embraer à Boieng (Pentágono), a Eletrobras, só para citar poucos casos.
Um cenário propício ao aumento da precarização do trabalho, desindustrialização e ao desamparo social com taxas cada vez mais altas. Com a reforma, cresce a falta de perspectivas para os jovens, especialmente entre 18 e 24 anos, apontada como principais fatores para o aumento da taxa de homicídios.
Essa questão, porém, permanece fora das prioridades da gestão pública seguindo o modelo neoliberal, uma forma de capitalismo mais contraditório, cujo discurso transfere a responsabilidade, sempre, ao indivíduo e ignora as suas necessidades mais básicas, de forma especial no campo da educação, saúde e segurança.
A frase do amigo, ao tentar tornar iguais coisas distintas, representam a confirmação de ausência de conhecimento sobre as circunstâncias que o cercam, criam condições ideais para possibilitar que pessoas medíocres e grotescas como Bolsonaro, Sérgio Moro, Paulo Guedes, Rodrigo Maia e mais uma penca possam vestir a indumentária de heróis, como demonstrou o velho Marx no seu O 18 de Brumário de Luís Bonaparte.
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