Dia D do descaso
Passados 11 meses da descoberta do primeiro caso de Covid 19 no Brasil, em 26 de fevereiro de 2020, o país caminha para registrar 210 mil mortes causadas pela doença e mais de oito milhões de casos, segundo os números oficiais, quando somos impactados pela fala do general ministro da Saúde - especializado em logística -, que a população será vacinada no "Dia D, na Hora H". Do tom do discurso não sobra nada de concreto, a não ser o autoritarismo, um linguajar natural do militarismo, que se fortaleceu no Brasil a partir do governo Bolsonaro, e a certeza de que o governo não está aí muito preocupado em vacinar a população e sim em fazer política.
Um exemplo perfeito de logística, parte de um contexto onde se destaca a invasão das tropas soviéticas em Berlim, capital da Alemanha, na mesma época, que pôs fim ao regime de terror implantado na Europa e que ainda hoje influencia governos autoritários mundo afora, pois o vírus do nazismo nunca morre, como disse o escritor franco-argelino Albert Camus (1913-1960), por meio de uma personagem do seu livro A Peste.
Caso os projetos sejam aprovados, o controle político dos governadores sobre as polícias ficará limitado, na mesma proporção em que aumentará o poder do oficialato da PM e dos delegados-gerais, quando se tratar da Polícia Civil. Exatamente onde Bolsonaro investe para garantir reforço no caso de uma quase certa crise política mais grave que possa desaguar em um processo de impeachment, difícil, mas não de todo descartado, em decorrência da situação de desmonte imposto a partir de 2019, gerando retrocessos na economia.
São dias Ds que se repetem há dois anos, marcados pelo tom da irresponsabilidade e diante de uma oposição acomodada, incapaz de interagir com as camadas mais atingidas. Passado o período eleitoral, onde estão os partidos de esquerda, de que forma age a oposição? São respostas cruciais para se entender o momento atual e sentir até onde o descalabro pode chegar sem que haja alguma reação à altura, pois será a partir de uma oposição com o apoio popular que o autoritarismo será reprimido.
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Comentários: 1
Como sempre, mais um artigo afiado e certeiro que expõe as vísceras e o que restou de miolos dos associados pendurados neste desgoverno.
Valeu, Junquilho.