Segunda, 29 Abril 2024

​'É preciso ser antirracista'

O caminho da justiça social em nosso país passa por reconhecer que a maioria de nossa sociedade é negra. As nossas lutas por cidadania precisam ter como base a luta contra o racismo e pela garantia dos direitos das mulheres, que são também a maioria.

A desigualdade entre negros e brancos em nossa sociedade é percebida a olhos nus, quando olhamos para as representações nas instituições e verificamos que não é justa com a nossa realidade, de maioria de negros e negras à nossa volta. Nas câmaras legislativas, uma minoria negra, nas prefeituras, também, e assim segue nas assembleias legislativas, nos governos de estados, na Presidência da República, no Senado, na Câmara Federal e nas diretorias das empresas.

Encontramos a maioria de negros nos trabalhos com menores remunerações e qualificação, nos postos operacionais. Nos postos táticos e estratégicos, a presença negra vai diminuindo em número, gradativamente.

Encontramos a população negra em grande maioria nas periferias. Precisamos aprofundar nosso conhecimento da realidade, para fazermos a reflexão sobre qual deve ser nosso compromisso de sociedade democrática com o povo negro. Muitas vitórias já foram alcançadas na luta contra o racismo, mas a relação democrática com a população negra ainda é muito desigual.

A luta contra o racismo não se separa da luta pelos direitos da mulher e são partes das lutas do povo trabalhador contra a desigualdade social.

A nossa luta antirracista e feminista, não pode ser apenas uma luta dos movimentos sociais, mas de todo cidadão e cidadã comprometido com a democracia e com a igualdade social. Precisamos ser sujeitos de nossa história e ocupar os espaços de vanguarda nas mobilizações em defesa da igualdade racial, das mulheres e, principalmente, dos jovens.

Por uma sociedade sem nenhum tipo de discriminação, onde as mulheres e negros são a maioria da população, a nossa luta deve ser sempre contra o conservadorismo e o fascismo, pois vivemos em uma sociedade onde a classe média foi construída em uma hegemonia com uma história eurocêntrica, predominantemente branca, patriarcal, que sempre considerou as lutas antirracistas e feministas como algo sem importância. Nosso maior desafio é tornar hegemônico o pensamento de igualdade social, principalmente para a nossa população negra e feminina.

As ações dos movimentos antirracistas exigem de nossa sociedade democrática profundas e necessárias mudanças.

A nossa histórica luta por igualdade contra o racismo e pelo respeito aos direitos da mulher, se fundem numa única luta.

Nossa juventude precisa de novos conhecimentos sobre nossa história, nossas lutas do passado, que muito contribuíram para os avanços conquistados até aqui.

A heroica luta de Zumbi e Dandara, no quilombo de Palmares, a revolta dos negros Malês, na Bahia, em 1835, a revolta chamada Cabanagem, quando os negros tomaram o poder em Belém do Pará, de 1835 a 1840, a Insurreição do Queimado, na Serra ES, em 1849, devem ser relembradas para conhecermos melhor o Brasil real que temos, que foi criado pelo trabalho negro e escravizado.

A nossa visão sobre a realidade da construção de nossa sociedade nos pede um salto de qualidade na compreensão das partes integrantes de nosso país, que foram empurrados para as margens de nossa sociedade, nas favelas, nas periferias, e basta olhar para enxergar que são a maioria de nosso povo, negros, mulheres, jovens, oprimidos e discriminados.

É nosso dever e obrigação nos juntarmos, todos, nas lutas sociais e, principalmente, na luta antirracista, para libertar o Brasil de um passado injusto e cruel para com seu povo trabalhador, e agora reconstruirmos um país com justiça social, antirracista e sem opressão a pobres, negros e mulheres.

"Não digam que fui rebotalho, que vivi à margem da vida. Digam que eu procurava trabalho, mas fui sempre preterida. Digam ao povo brasileiro que meu sonho era ser escritora, mas eu não tinha dinheiro para pagar uma editora". Carolina de Jesus

"Ninguém nasce odiando outra pessoa por sua cor da pele, sua origem ou sua religião. As pessoas podem aprender a odiar e, se podem aprender a odiar, pode-se ensiná-las a aprender a amar. O amor chega mais naturalmente ao coração humano que o contrário". Nelson Mandela

"Em nós, até a cor é um defeito. Um imperdoável mal de nascença, o estigma de um crime. Mas nossos críticos se esquecem que essa cor, é a origem da riqueza de milhares de ladrões que nos insultam; que essa cor convencional da escravidão tão semelhante à da terra, abriga sob sua superfície escura, vulcões, onde arde o fogo sagrado da liberdade." Luiz Gama, um dos maiores abolicionistas da história brasileira.

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