A expressão elefante branco é comumente usada para designar algo que custou caro, mas que não possui serventia. É exatamente o caso do campus da Faesa em São Pedro, Vitória. O superintendente da instituição de ensino, Alexandre Theodoro — depois de insistir por duas décadas em manter um complexo educacional do noroeste da baía de Vitória —, parece ter se convencido de que a unidade São Pedro não vingaria. Em 2009, no penúltimo ano do governo Paulo Hartung (PMDB), que sempre tratou com deferência a classe empresarial, houve uma tentativa de socorrer Theodoro. O governo ventilou a possibilidade adquirir o prédio, que seria transformado em uma academia policial.
O negócio, porém, não deu certo, mas Hartung e Theodoro continuaram amigos. Em 2012, Theodoro decidiu tirar o curso de Odontologia de São Pedro e trazê-lo para o campus da avenida Vitória. À ocasião, ele alegou que os problemas de mobilidade urbana na Capital estavam inviabilizando o deslocamento dos alunos. Conclusão, o prédio de 35 mil m2 se tornou um estorvo para o grupo educacional: “O que fazer com o elefante branco?”. A solução veio com o Escola Viva. O polêmico projeto de educação em tempo integral imposto pelo governo à comunidade escolar trazia em seu pacote a locação de um imóvel para abrigar o piloto do Escola Viva.
Hartung deve ter se lembrado da demanda que não pôde ser atendida em 2009. Havia agora uma oportunidade única para socorrer o amigo. Pesou também, é lógico, a proximidade de Theodoro com o projeto. O dono da Faesa é membro dos conselhos Deliberativo e Operacional da Espírito Santo em Ação, além de ser um dos integrantes do grupo de trabalho “Educação em Tempo Integral”, justamente o núcleo que cuida da gestão do Escola Vida, cuja ONG é parceira.
O governo não queria outro endereço. Estava resolvido: o piloto do Escola Viva funcionaria em São Pedro e ponto final. Sorte de Theodoro, que firmou um contrato de locação de cinco anos com o governo. O aluguel de um dos prédios do complexo educacional custará R$ 62 mil mensais aos cofres públicos. O contrato ainda prevê a possibilidade de compra no trigésimo mês. Alguém duvida.
Haroldo Rocha anunciou a locação do prédio como um negócio da China para o governo. Ele procurou acentuar o perfil da comunidade de São Pedro para justificar a pressa em fechar o contrato sem licitação.
Se o critério a ser considerado para a escolha do local de implantação do piloto do Escola Viva é a vulnerabilidade social dos jovens, São Pedro não deveria estar no topo da lista. Há outras regiões bem mais carentes na Grande Vitória.
Os dados de homicídios de maio deste ano da Secretaria de Segurança Pública, por exemplo, indicam que Vitória é o município menos violento da região metropolitana. Foram registrados sete assassinatos na Capital; 10 em Vila Velha; 11 em Cariacica e 26 em Serra.
Fosse prioridade do governo levar o projeto às zonas mais suscetíveis à violência da Grande Vitória, o Escola Viva deveria chegar primeiro na Serra, que há anos está entre o municípios mais violentos do Estado e do país.
Mas assim como governo impôs o Escola Viva à comunidade escolar sem discussão, preocupado apenas com o viés eleitoreiro do projeto em detrimentos da proposta educacional em si, não seria de se estranhar que o local escolhido para a implantação do piloto também não observasse critérios técnicos, mas atendesse ao lobby articulado nas reuniões da ONG Espírito Santo em Ação.
Para afastar a polêmica e provar que São Pedro é o local mais indicado para receber o piloto do projeto, e que a escolha da Faesa foi apenas uma feliz coincidência, Haroldo, em entrevista ao jornal A Gazeta (17/06/2015), tenta mostrar que o prédio caiu como uma luva nas pretensões da Sedu.
Na lógica de Haroldo, não foi a Faesa que encontrou uma oportunidade única para desencalhar seu elefante branco, mas o governo que escolheu São Pedro como ponto de partida do projeto e acabou, por um tremendo golpe de sorte do destino, encontrando um local sui generis para abrigar o projeto — a chamada mosca branca.