Segunda, 29 Abril 2024

Eleições municipais

Embora a hierarquia do poder diga o contrário, neste ano teremos o que vejo como a principal eleição do país. A eleição municipal movimenta a base de toda a política, é ali no município que vivem eleitoras e eleitores. A escolha de representantes: vereadoras, vereadores e prefeita ou prefeito se dá pelo contato direto de candidatas e candidatos com o povo, as relações são próximas e as demandas são objetivamente inerentes ao cotidiano imediato da população.

Dentro desse contexto imediatista e local, muitas das vezes, eleitoras e eleitores despercebem de questões, que pode se dizer maiores, como a filiação partidária e o projeto de sociedade a que candidatas e candidatos estão vinculados. É claro que para conseguir o voto, na intimidade da relação, as respostas sempre contentam quem as buscam. No geral, quando questionadas, as pessoas que se candidatam alegam menor importância para as questões nacionais, reforçando maior importância à pessoalidade e proximidade da relação.

Considerando que somente depois de dois anos vem a eleição em que serão escolhidas as pessoas que formarão o Congresso Nacional, as assembleias legislativas e os executivos estaduais e federal, o distanciamento temporal de um momento para o outro altera todo o significado anterior e as pessoas eleitas, pela proximidade, passam a figurar como cabos eleitorais dos mais distantes. Costuma-se dizer que quem tem voto são as vereadoras e vereadores que, inclusive, são muito requisitados nas eleições ditas majoritárias. As candidatas e candidatos aos cargos desta segunda eleição sempre têm vereadores à tira-cola para angariar votos pelas cidades.

As consequências desta desvinculação das candidaturas municipais com a política estabelecida no país são dramáticas e colocam o próprio povo como protagonista de seu martírio.

Assistimos as consequências dessas contradições entre 2018 e 2022, numa atitude orquestrada entre o fundamentalismo religioso, que promoveu o enfrentamento do povo com ele mesmo e o moralismo (ismo de patologia) hipócrita do conservadorismo fascista, que deixou seus verdadeiros interesses escondidos por uma cortina de fumaça para as pessoas menos avisadas. Como consequência assistimos à deterioração de instituições importantes para a população em geral, como o Coaf, a Fundação Palmares, a defesa do meio ambiente, o respeito às populações tradicionais, e etc.

Mesmo que a pessoa que se pretenda representante municipal tenha sido criada ali, seu amigo ou amiga de infância ou de seus filhos, acima de tudo deve pesar seu envolvimento político, pois não é essa pessoa, candidata a sua amiga (talvez até já seja), mas sim a representante de uma força política que pretende direcionar o município, o Estado e o país.

Lembrando sempre do diálogo com Maquiavel, que nos esclarece a verdadeira intenção do político, o que podemos fazer é priorizar a informação e a formação que possa abrir os olhos da população, em especial sua parcela mais carente, para que deixe de ser massa de manobras para oportunistas, espalhados nas mais diversas legendas e quase sempre travestidos de "amigos da população", "pessoas boas" e sempre "bem-intencionadas", que conforme posto, definirão a política dos próximos seis anos em nosso país.

Everaldo Barreto é professor de Filosofia

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