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Elon Musk e o Twitter – parte 8

Postura sempre foi marcada pela agressividade e excentricidade

Elon Musk impulsionou a campanha presidencial de Javier Milei, na Argentina, partilhando vídeos do anarcocapitalista, um misto de bufão e narcisista, como a maioria dos novos líderes carismáticos deste novo extremismo de direita. Um dos posts de Musk mais vistos em toda a sua trajetória no X, antigo Twitter, foi sua sugestão de que ver um discurso de Milei era melhor do que fazer sexo.

Musk se empenhou em colocar a imagem de Javier Milei como a nova face da direita, um anarcocapitalista libertário que, na História Mundial poderia, pela primeira vez, ocupar um cargo executivo para comandar um Estado Nacional, no caso, a Argentina. Enquanto isso, o CEO atuava, pragmaticamente, para defender os interesses de seus próprios negócios, isto é, de suas empresas Tesla e Space X.

O jogo político de Musk, portanto, nunca foi puramente ou exatamente ideológico, mas de viés comercial e econômico, em função de seus interesses empresariais. Tinha, por exemplo, interesse no lítio da América do Sul. Sendo que a Tesla, há muito tempo, compra lítio da Argentina, país com a segunda maior reserva do mundo deste mineral. Javier Milei, portanto, é mais um na lista de chefes de Estado de direita que Elon Musk se aproxima para obter benefícios para as suas empresas.

O veículo preferencial deste apoio dado por Musk a líderes de direita é o X. Por meio dessa plataforma é que Elon Musk apoia nomes como Milei, Bolsonaro, Narendra Modi, e reproduz as opiniões desses líderes sobre gênero, anticomunismo e etc., se confrontando com perfis de esquerda. Em troca desses apoios, Musk expandiu a influência de suas empresas, com benefícios obtidos, tais como tarifas de importação mais baixas para os carros elétricos da Tesla, na Índia, um novo mercado para a Starlink no Brasil, um serviço de internet via satélite da Space X, além de acesso privilegiado ao lítio argentino.

Elon Musk é um CEO que se aproximou de líderes ideológicos como nenhum outro desta classe de empresários, sobretudo da tecnologia, pois Bill Gates, por exemplo, é mais marcado pela filantropia e pela discrição, com Jeff Bezos tendo mais approach na área comercial e, Mark Zuckerberg, por sua vez, polemizando na área dos costumes, vivendo em controvérsias morais e, eventualmente, enfrentando a justiça, ao passo que Musk, no que consta em atuações de cunho político, não tem paralelo entre os CEOs, e sua postura sempre foi marcada pela agressividade e excentricidade.

Elon Musk, na área política, somado ao contexto ideológico nessa sua aproximação de autocratas e líderes de extrema direita, acabou entrando nos questionamentos da chamada cultura woke, algo que não é, necessariamente, uma exclusividade de uma direita hidrófoba, mas recebendo críticas internamente, também da própria esquerda, frente aos exageros e desvios de finalidade de algumas pautas, que acabam por descambar em perversões caricatas de pautas importantes de defesa de direitos afirmativos, de estratos da população, que foram historicamente perseguidos.

Para Elon Musk, a pauta woke é uma falha da esquerda que levou a questionamentos sobre a imigração ilegal e a queda das taxas de natalidade. A luta contra a cultura woke, portanto, na visão dele, constitui uma movimentação política, pois tal mentalidade seria uma espécie de comunismo renovado. Na sua atuação frente a líderes de direita, podemos destacar dois momentos, a sua aproximação de Narendra Modi, da Índia, e de Jair Bolsonaro (PL), aqui no Brasil.

Elon Musk se encontrou com o líder nacionalista Modi em setembro de 2015, na fábrica da Tesla, em Fremont, na Califórnia. Modi fora eleito primeiro-ministro da Índia em 2014, com a chegada de seu partido Bharatiya Janata ao poder, e a relação foi longa, até Elon Musk conseguir acesso ao mercado hindu, e isso depois de ter comprado o Twitter, e crescido o nome de Modi na rede social.

Por motivos de segurança nacional, a BYD, montadora chinesa, está proibida de entrar no mercado hindu de veículos, o que tornava este mercado atraente para os interesses de Elon Musk, com a sua empresa de carros elétricos, a Tesla. No início existia uma barreira tarifária de 100% sobre carros elétricos estrangeiros neste país, o que dificultou, neste primeiro momento, os planos do CEO.

Depois de uma relação conturbada do governo Modi com o Twitter, com casos de desafio à censura de material online, contrariando interesses do líder nacionalista, quando Elon Musk comprou o Twitter, e mudou seu nome para X, no entanto, as coisas mudaram. O CEO tinha interesses de uma relação próxima com Modi, em função dos objetivos de expansão de mercado da Tesla, com o processo contra o governo hindu, feito pelos antigos donos do Twitter, sendo arquivado, depois da mudança de dono para Elon Musk.

Depois que o CEO da X escreveu na rede social, em relação à Organização das Nações Unidas (ONU) que “A Índia não ter um assento permanente no Conselho de Segurança, apesar de ser o país mais populoso do planeta, é um absurdo”, a Índia anuncia dois meses depois a redução da tarifa de importação para empresas de carros elétricos que investiram pelos menos 500 milhões de dólares para a produção destes veículos no país. Tal redução foi de 100% para 15%, em relação a carros elétricos vendidos por mais de 35000 dólares. Era a entrada da Tesla no mercado hindu.

Em 2021, a Starlink ainda estava numa expansão inicial, e o Brasil era uma oportunidade para Elon Musk fazer um acordo, pois o governo de Bolsonaro, à época, tinha afinidade ideológica com o empresário, o que facilitou o acesso dos satélites da Starlink no mercado brasileiro, sobretudo depois da visita que o então ministro das Comunicações, Fábio Faria, fez ao Texas, nos Estados Unidos. O ministro começou a fazer pressão para os reguladores aprovarem a parceria, tentando deixar a agência espacial brasileira de fora do debate, para viabilizar o acordo. A Starlink, portanto, começou a operar no Brasil em dezembro de 2021.

Elon Musk, em 2022, então, tentou ajudar na campanha de reeleição de Bolsonaro, indo para o Brasil de surpresa, fazendo um grande anúncio ao lado do presidente à época, no qual se dizia que a Starlink chegaria ao mercado brasileiro para fornecer internet para 19 mil escolas rurais, o que nunca se concretizou, ao passo que a monitorização ambiental da Amazônia, que também foi anunciada, se efetivou.

Elon Musk recebeu uma medalha de Bolsonaro, que se referiu ao CEO como uma “verdadeira lenda da liberdade”, num contexto em que o empresário estava tentando comprar o Twitter. Contudo, naquele ano de 2022, Bolsonaro perderia as eleições para Lula.

Elon Musk compra o Twitter, depois de muita discussão e controvérsia, e dentre vários movimentos, um deles foi o de ajudar Bolsonaro quando circularam, no agora X, acusações contra juízes brasileiros, que tinham ordenado, segundo o já citado aqui Twitter Files,  a remoção de posts da direita e a suspensão ou bloqueio de contas de mesma orientação política. Nesse momento, pessoas acampavam fora das bases militares, num movimento para a anulação do resultado das eleições.

Elon Musk começa uma ingerência na empresa X para deter tais remoções de conteúdos pela anulação das eleições, mantendo a retirada de posts que sugerissem violência ou que implicassem em ordem judicial. O clima era tenso. O que culminou com as invasões dos Três Poderes, em Brasília, no fatídico 8 de janeiro de 2023, nesse influxo de contestação dos resultados das eleições, em uma tentativa de golpe canhestra, infantilizada, embora guiada por mentores, e tendo momentos de orientação tática evidente.

Por fim, Elon Musk começou os seus ataques sistemáticos contra o ministro do STF, e então presidente do TSE, Alexandre de Moraes, responsável pela supervisão das investigações em relação ao ex-presidente Bolsonaro e seus apoiadores que cometeram crimes. Por sua vez, Moraes ordenou o bloqueio de mais de 100 contas no X, sob críticas e protestos do CEO e dono da rede social.

(continua)

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
Blog: http://poesiaeconhecimento.blogspot.com

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