Quinta, 28 Março 2024

Em pratos limpos

 

Nas raras vezes em que houve a publicação de estudos igualando os alimentos orgânicos aos convencionais no quesito nutrientes – a maioria coloca como incontestáveis os benefícios do primeiro –, a notícia se espalhou como epidemia. A exemplo do que ocorre agora, com a pesquisa da universidade de Stanford, que ganhou a imprensa e as redes sociais.  Antes de mais nada, porém, é bom deixar claro: há controvérsias. E é sobre isso que vou falar. 
 
A principal informação pontuada no novo estudo, que soa como canção para aqueles que se opõem à agricultura familiar, que não são poucos, diga-se de passagem, é a constatação de que os alimentos orgânicos têm o mesmo conteúdo de vitamínico e nutrientes do que os convencionais. O orgânico levou vantagem apenas no fósforo, ponto considerado irrelevante para os pesquisadores, e em ômega-3. Para chegar a essa conclusão, foram avaliados 237 levantamentos sobre o assunto. 
 
Em 2009, outro estudo dizia praticamente a mesma coisa. Realizado pela Food Standards Agency (FSA) – Agência de Normas de Alimentos do Reino Unido -, também era uma revisão de literatura. Mas, posteriormente, um grupo de cientistas fez uma revisão mais rigorosa da mesma literatura e os resultados foram opostos, confirmando a superioridade nutricional dos orgânicos. No final das contas, o estudo da FSA havia minimizado as descobertas positivas sobre os alimentos da agricultura familiar. 
 
Voltemos ao estudo de Stanford. Os pesquisadores, ao mesmo tempo em que dizem que os orgânicos não têm mais nutrientes do que os convencionais, e, portanto, não são mais saudáveis, reconhecem que os mesmos apresentam 30% menos de agrotóxicos. Mas somente este fato não significa que são mais saudáveis? Qual é a definição afinal de alimento saudável?
 
O processo envolvendo os orgânicos é muito mais do que seu valor nutricional. Envolve questões ambientais e a consciência do papel de cada um na sociedade. É uma opção feita por quem sabe dos riscos ambientais e à saúde gerados pelos agrotóxicos, indústria que rende muito dinheiro a grandes corporações. Leia-se, principalmente, Syngenta, Bayer, Basf, Dupont, Monsanto, Shell Química. Essas venderam, somente na última safra, 1 bilhão de litros de veneno, levando 80% do lucro gerado no setor. 
 
 
Mas apesar de contribuírem para que o Brasil amargue a liderança no consumo de agrotóxicos, são elas que ditam as regras e recebem atenção especial do poder público, não os camponeses, responsáveis por quase 70% dos alimentos consumidos pelas famílias brasileiras diariamente. Uma contradição e tanta. 
 
 
E sobre os tais nutrientes da pesquisa de Stanford? Especialistas apontam que alguns alimentos orgânicos podem não apresentar maiores teores de proteína, carboidratos e gorduras. Mas têm maiores quantidades de minerais, de vitaminas como a C, e de fitoquímicos de ação antioxidante, capazes de prevenir disfunções e doenças.
 
Eu fico com eles. 

 
 
Manaira Medeiros é jornalista e especialista em Educação e Gestão Ambiental

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