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Em que País você vive?

Passei a adolescência inteira de um dos meus filhos tentando convencê-lo de que nenhum homem é uma ilha, porque, na rebeldia natural da idade, ele questionava o fato de que precisava se impor certos limites para possibilitar a vida em sociedade. Então, ele passou a dizer que odiava a sociedade e eu tive que partir para o lado racional da coisa, mostrando a vida interdependente que todos vivemos.
 
É complicado para a maioria das pessoas compreender que é sócio de algo onde é tratado como desigual. O sistema educacional não educa para a cidadania, com direitos  e deveres. Outro dia ouvi o Max Gehringer responder a um ouvinte e, com seu jeito simples de explicar as coisas, resumir que nossa legislação trabalhista tem um viés socialista, enquanto a legislação dos Estados Unidos da América tem foco capitalista.
 
De um amigo recém-chegado de uma missão diplomática, como um dos representantes de seis nações africanas a convite do Departamento de Estado Americano, ouvi preciosas informações sobre aquilo que, normalmente, não sabemos muito bem do modo de vida nos Estados Unidos, e da filosofia que eles adotam. Basicamente, o que quero passar aqui é que lá prevalece o direito individual enquanto aqui, teoricamente, o interesse coletivo.
 
A grande questão – e isso a maioria de nós, brasileiros, quando criticamos a ideologia norte-americana, não vê ou não quer ver – é o respeito a esses princípios de direito cidadão. É uma questão de organização nacional. Enquanto os Estados Unidos da América, primeiro, formaram a nação e, depois, o Estado, aqui, primeiro, tivemos o Estado e, depois, a Nação, se é que, sinceramente, temos a exata noção do que represente isso.
 
De uma hora para a outra, “o gigante despertou”. Foi o que mais se ouviu nas últimas semanas, numa remissão à letra do nosso Hino Nacional Brasileiro, especialmente ao “gigante pela própria natureza” e ao “deitado eternamente em berço esplêndido”.  Desculpem-me o pessimismo, mas falta muito para o gigante despertar. Espero que o primeiro sinal disso seja nas próximas eleições, onde nossa natureza de muares mais se manifesta.
 
Votar “livremente” não é a expressão máxima de uma democracia, assim como ter dinheiro não é sinônimo de ser rico. Até porque a liberdade vem do conhecimento da verdade e a verdade ainda está muito distante de nós. Talvez, escondida nos palácios cercados de lagos no árido solo do Planalto Central, onde isolaram os dirigentes políticos da pressão popular da antiga Capital Federal, o Rio de Janeiro.
 
A verdade liberta sempre, já defendiam os iluministas, mas qual é a verdade conhecida de quem sai de casa numa manhã de um dia de greve geral e se dirige ao ponto de ônibus, ou porque não sabe ou porque não acredita que seja sincera a intenção de parar um País tão grande e desigual quanto o nosso?
 
Particularmente, muitas vezes me sinto cansado e caminhando sem razão, ao perceber que, por mais que me esforce para cumprir bem com minha missão pessoal, não estou, enquanto membro dessa sociedade de que tanto falamos, fazendo parte de um projeto maior de construção de uma nacionalidade cidadã. Porque as decisões são tomadas entre quatro paredes por cidadãos “mais iguais” que eu, que têm em suas mãos nossa vida e nossa morte, e parecem brincar com nossa vida como uma criança fazendo malabarismos com bolas de cristal – tão delicadas e tão sob perigo!
 
Talvez, como eu, estejam frustrados nove em cada dez cidadãos brasileiros. E, em tudo que está aí, não consigo, por mais otimista que eu sempre tenha sido, vislumbrar sinais de que, daqui a alguns meses, estejamos em um País melhor. Quando tudo isso passar, e as forças sociais e políticas se acomodarem no jogo da sobrevivência, talvez não estejamos vivendo num mundo diferente desse de hoje.
 

José Caldas da Costa é jornalista, escritor, licenciado em Geografia. Contatos: [email protected]

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