Domingo, 28 Abril 2024

Ensaiado

 

Não demorou nada e o discurso do ex-governador Paulo Hartung (PMDB) contra a inclusão de seu nome na denúncia do promotor Dilton Depes já foi encampado pelo governador Renato Casagrande. Notas bem ensaiadas, numa clara tentativa de reforçar a tese apresentada por Hartung de perseguido político e vítima, voltando sempre naquela velha história do combate ao crime organizado. Mas a principal justificativa de Hartung, ecoada agora por Casagrande, não é tão simples como eles querem que pareça. O entendimento sobre a responsabilidade de governadores em casos de corrupção é, no mínimo, controverso. Alegar que simplesmente não era o ordenador de despesas, não encerra o assunto. A participação de Hartung foi considerada direta, ele não garantiu apenas crédito suplementar de R$ 4 milhões para as obras do posto fiscal em Mimoso do Sul, que nunca saiu do papel, mas também recursos quando o mesmo já havia sido extinto, em 2010. Além do mais, o caso envolve pessoas da absoluta confiança de Hartung. Mesmo que fosse hábito do ex-governador assinar tudo de olhos fechados, ainda assim ele precisaria ser investigado, como precisa agora. E Casagrande, mais uma vez, entra numa barca furada. Que coisa...
 
Ensaiado II
Em 2009, o hoje presidente do Supremo, ministro Joaquim Barbosa, levantou a questão em uma ação que tramita no Superior Tribunal de Justiça envolvendo o senador Valdir Raupp de Matos (PMDB/RO), quando ele era governador de Rondônia. Barbosa pontuou que essa mesma alegação não era suficiente para arquivar o processo, seguindo jurisprudência firmada pelo Supremo: para aceitação de denúncias e abertura de ação penal basta a existência de indícios, aplicando-se o princípio in dubio pro societatem (na dúvida, a favor da sociedade).
 
Ensaiado III
Raupp havia assinado convênio com o Ministério do Planejamento e Orçamento, se comprometendo a aplicar os recursos repassados (R$ 21,176 milhões) exclusivamente no Planafloro, mas o dinheiro fora desviado para outros fins. Barbosa defendeu que isto teria ocorrido sob ordens do então governador. O senador veio com a mesma ladainha de que não era o ordenador de despesas e jogou a batata quente para cima do seu secretário da Fazenda na época. 
 
Ensaiado IV
Ao sair em defesa de Hartung, o governador Casagrande também já deixa seu recado sobre os citados na denúncia que estão no seu governo. Não vai tomar nenhuma providência em relação a Bruno Pessanha Negris (atual presidente do Banestes); o ex-secretário de Transportes e Obras Públicas, Neivaldo Bragato (atual presidente da Cesan); o ex-diretor-geral do Departamento de Estradas de Rodagem (DER-ES), Eduardo Antônio Mannato Gimenes – que ainda ocupa cargo de direção no órgão, e Marcos Antônio Bragatto (atual consultor do Executivo na Secretaria da Fazenda). 
 
‘Coincidência’
A mídia corporativa, para variar, sempre entra em campo para socorrer Hartung. Nesta segunda-feira (18), o jornal A Gazeta tratou de relembrar do ex-presidente da Assembleia Legislativa José Carlos Gratz. Matéria de página inteira, atrás dela, a defesa ao ex-governador. Cheira à encomenda. 
 
Cadê?
Expectativa agora é por um pronunciamento do deputado estadual Gilsinho Lopes (PR), que puxou a polêmica do posto fiscal lá atrás. Estamos no aguardo. 
 
No ar
O governo do Estado fez aditivo ao contrato que mantém com a Sociedade de Taxi Aéreo Weston Ltda, para “prestação de serviços de locação de aeronaves de asa fixa com tripulação e comissária”. O valor total passa a R$ 1.396.875,00. O povo quer “rodar” mais e mais o Estado. Que diga o vice-governador Givaldo Vieira (PT), que aproveita para fazer sua candidatura a deputado federal. 
 
Pegando fogo
Cassinho Ayres, que protocolou na sexta-feira (15) o pedido de impugnação da convenção do PSDB em Vitória, apontando várias irregularidades na escolha da chapa única, comunica que solicitou nesta segunda-feira (18) a relação dos eleitos no diretório municipal e foi surpreendido com a resposta de que não existe essa lista. E questiona: os filiados votaram em quem então? A ata, diz ele, também não está no partido. O presidente eleito, Aloísio Ramaldes, não garantiu que foi tudo certo, dentro da lei? Cachimbo da paz passa longe do ninho tucano.
 
Cerco fechado
Na sequência do oba-oba que a classe política ama fazer para a poluidora Vale, fica o registro. O Valor Econômico divulgou que o governo da Argentina proibiu a empresa de demitir qualquer operário envolvido com o projeto Potássio Rio Colorado. Motivo: a Vale desistiu do empreendimento e saiu demitindo todo mundo, cinco mil pessoas. A poluidora só tem moleza mesmo por aqui. E quanta moleza!
 
140 toques
“Amanhã [terça-feira, 19] teremos outro debate na Comissão de Assuntos Econômicos sobre a proposta do governo de uma alíquota única para o ICMS”. (Senador Ricardo Ferraço – PMDB – no Twitter).
 
PENSAMENTO:
“Se quiser por à prova o caráter de um homem, dê lhe poder”. Abraham Lincoln 

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Segunda, 29 Abril 2024

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