Subo as tarifas ou declaro guerra ao Brasil?

No sábado, talvez, ou quando necessário, ou apenas por precaução, a ida ao WalMart é uma aventura: percorrer os longos corredores esbarrando o carrinho ainda pela metade nos carrinhos alheios. Volta que esqueci do sabão em pó, os tomates estão mais caros que frutas… Os ovos mudaram de prateleira: o preço subiu tanto que agora ocupam a vitrine da entrada…
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Entre laranjas e milho-verde na casca encontro os melões cantaloupe, escolho um e dirijo-me ao caixa mais próximo. As registradoras com atendentes atenciosas estão encolhendo, superadas pelos caixas self-service. Prefiro a moda antiga, e enquanto espero a vez, dá pra folhear as revistas estrategicamente situadas ao lado do caixa. Ninguém compra.
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Lá fora o sol explodindo no intenso calor do verão da Flórida – onde foi que estacionei o carro? O porta-malas já veio lotado – tem que ser malabarista chinês para acomodar as compras entre cadeiras de praia, sacolas com roupas para doação, tênis sem o par e agasalhos esquecidos desde o último dia que fez frio… Nesse quebra-cabeça o melão cai da sacola e rola no chão.
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Corro atrás, mas o rebelde se acomoda embaixo do carro mais próximo: uma van que, pelas dimensões, deve carregar um time de futebol. Tento todos os lados, todos os ângulos: nada alcança o fugitivo escondido bem no centro da área ocupada pelo carro. Espero algum jogador de basquete passar, ou alguém que tenha comprado uma vassoura, ou algum funcionário da empresa doido por uma gorjeta – ninguém!
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Os que passam me ignoram, resisto à tentação de pedir ajuda: Por favor, entra debaixo desse carro e resgata meu melão… Minha senhora, volta e compra outro melão… ou dois, que se mais um cair, tem um sobressalente! Uma trumpista é mais gentil: Comprei um melão também, posso dividir… Agradeço, mas meio-melão não resolve meu problema. Como sei que é trumpista? Ela usa uma faixa: ‘Subo as tarifas ou declaro guerra ao Brasil?’
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Quando criança eu ouvia meu pai dizer: O Brasil precisa declarar guerra aos americanos… Por que, pai? Porque os países que lutaram contra eles estão mais ricos do que nós. Anos depois, estou no estacionamento de um Walmart esperando o/a chofer do carro vizinho chegar. Afinal, ninguém dorme no Walmart: já não ficam abertos 24 horas. Sinal dos tempos!
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A tarde cai e todos que passam por mim se dirigem para outros carros – parece que ninguém é dono da van que esconde o melão essencial para minha dieta. O melão cantaloupe é rico em potássio, fortalece o sistema imunológico e aumenta o fluxo de oxigênio no cérebro, dando a sensação de tranquilidade. Por isso fico tão chateada por perder um melão que custou… 3 dólares!
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Durmo mal sem minha fonte de tranquilidade e bem-estar. Na manhã seguinte volto ao Walmart e o melão está livre, fresquinho com o orvalho da noite. Nesse sagrado momento de total tranquilidade, ouço o ronco das motos Harley Davidson em desfile comemorativo do Dia da Motocicleta. Acontece na segunda sexta-feira do mês de julho: “Para celebrar o espírito motoqueiro e destacar a importância da segurança nas motocicletas.