Escreveu não leu...
Houve um tempo em que uma página em branco e um lápis com ponta bem afiada era tudo de que se precisava para escrever alguma coisa – fosse um pequeno poema inútil, um conto sem pé nem cabeça ou o próximo romance do século. Os tempos mudam, e me vejo diante da triste realidade - há quanto tempo não escrevo à mão, além da lista de supermercado?
Jamais escrevi qualquer obra de ficção na máquina de escrever. Era primeiro no papel, e qualquer um servia, em qualquer lugar. Só depois, com tempo e paciência, ia batucar na velha Remington o que havia rascunhado. Ou na Olivetti, ou na Cassio, que muitas tivemos, chamadas máquinas de datilografar. Mas veio o computador e tudo mudou, eliminando a fita, o papel carbono, o líquido corretor, e até nossos erros. Bem, quase todos.
Com o advento dos malabarismos do Windows, onde tudo é possível, a escrita nunca mais foi a mesma. Errou? Apaga e escreve de novo. Ou conserta, rearranja, remove, rejeita, estica, reduz. Vive-se uma vida escrevendo diariamente, sem conhecer ou utilizar todos os seus segredos. Mas também o ato de digitar está ameaçado de extinção – seja no computador, no ipad, no celular, ou em que outro milagre inventem.
Já se espalham por aí os aparelhos com comando de voz, que fazem tudo que mandamos – basta dizer o nome, e eles fazem a chamada , ou recebem e cancelam chamadas, enviam e leem emails, nos levam a qualquer endereço, etc, etc. Teremos sempre à mão algum aparelho que escreva para nós, de quebra nos livrando da letra feia e da letra ilegível do médico em nossos receituários. E sem exames grafológicos confirmando que escrevemos a carta do sequestro.
O futuro não mora tão longe assim. As escolas primárias americanas não estão ensinando a escrita cursiva na alfabetização dos alunos. Será o primeiro passo para um futuro sem escrita manual? As futuras gerações não vão mais escrever, seja em cursiva ou em letra de forma, porque terão aparelhos para transformar a voz em escrita. A velha arte de escrever, que deu início à nossa civilização, ficará tão obsoleta como o fogão a lenha e relógio de sol.
O currículo escolar americano hoje se rege pelo CAT, o exame que os estudantes do 3º ao 11º grau fazem para avaliar a qualidade do ensino. Como tudo que uma escola precisa é de uma boa classificação – leia boas verbas – só ensinam hoje o que cai nesses testes. Entre outras aberrações, eliminaram a escrita cursiva, pois o aluno não tem que escrever nos testes, e o que vai ler está em letra de forma.
Desde o primeiro grau, os alunos já fazem uma parte dos deveres de casa no caderno, outra parte no computador. Uma escola de segundo grau na minha área eliminou totalmente o papel. Os alunos têm Ipads (obrigatórios), e toda a vida escolar se concentra nesse aparelhinho – lições, testes, leituras, deveres de casa, etc. É o começo do fim da velha arte de escrever à mão, como vai agonizando também o velho hábito de ler um livro. Quem viver sofrerá.
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