Segunda, 29 Abril 2024

Essa muié

 

A quem estiver atento e souber ler o que vai nas entrelinhas, é bastante evidente que está em curso uma queda de braço entre o governo federal e os agentes econômicos do setor energético ­– alguns com motivação econômico-financeira, outros apenas com sanha política.
 
O que se passa? Onde vai parar esse choque?
 
Impossível saber, mas vale lembrar que no final de dezembro, em sua última entrevista antes de sair para descansar na costa da Bahia, a presidenta Dilma saiu do sério e assumiu uma atitude sarcástica ao desqualificar a versão de que os raios seriam a maior causa dos miniapagões que vêm ocorrendo no setor elétrico.
 
“Gargalhem!”, ela disse, “quando alguém lhes disser que os problemas energéticos são causados pelos raios”. Segundo a presidenta, “há milhões de raios todos os dias” e, portanto, as causas seriam provocadas principalmente por falhas humanas que afetariam tecnicamente a manutenção dos equipamentos.
 
Como diz o zelador do prédio vizinho, “a Muié deu nos dedos da turma”.
 
Muié bem informada, ela sabe o que diz e para quem diz as coisas, mas o senso comum não ignora que as descargas elétricas (raios) estouram transformadores, cabos, fusíveis e outros equipamentos. Portanto, tem caroço nesse angu. Vejamos.
 
Uma pista para entender o que se passa é a irritação presidencial com os questionamentos a respeito do assunto. Há evidências de que a Muié está “por aqui” com as distorções vigentes nos meios energéticos.
 
No governo, a começar pelo ministro Edison Lobão, há uma proliferação de raposas. Na iniciativa privada, só se vêem chacais travestidos de cordeiros. E vejam como se usa o fantasma do racionamento de energia como parte do arsenal de terrorismo para atucanar o governo. A Mídia Tradicional se esbalda na exploração desse assunto.
 
Assim, podemos entender isso e outras cositas más como os primeiros movimentos da campanha eleitoral de 2014, quando Dilma provavelmente será candidata à reeleição.
 
Não podemos ignorar que alguns fatos vêm ajudando a oposição. Primeiro, a crise econômica que ronda o planeta faz pressão sobre o governo, que começa a ter dificuldade para fechar as contas, embora venha manobrando bem para manter os níveis de emprego e consumo. Segundo, o processo do mensalão colocou o PT na defensiva. E essa novela ainda não acabou.
 
Mas sem dúvida o que mais pesa na balança é a história dos 20% de redução nas contas de luz, decisão presidencial anunciada em setembro  para vigorar a partir de fevereiro.
 
Prezado leitor, prepare o seu coração para a maior medida econômica da história brasileira dos últimos 80 anos. Podemos compará-la talvez à queima dos estoques de café nos anos 1930. 
 
Todo esse zumzum sobre risco de racionamento, baixo nível dos reservatórios e aumento temporário dos custos da eletricidade tem seus motivos. A maior parte dos agentes energéticos não vê sentido no desconto de 20% nas contas de luz. Naturalmente, os chacais não querem entregar, gostariam de ficar com o percentual. Como sempre aconteceu.
 
E não é um bônus por um mês. É para sempre. Nunca se fez uma coisa dessas no Brasil. Internem a Muié, diriam os trogloditas do Mercado. Bonificação para o povo, mas que ideia!
 
LEMBRETE DE OCASIÃO
“Não há caminho tão plano que não tenha algum barranco”
Sancho Pança em Dom Quixote de la Mancha, de Miguel de Cervantes

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