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Faltam médicos, sobra corporativismo

“Prometo que, ao exercer a arte de curar, mostrar-me-ei sempre fiel aos preceitos da honestidade, da caridade e da ciência. Penetrando no interior dos lares, meus olhos serão cegos, minha língua calará os segredos que me forem revelados, o que terei como preceito de honra. Nunca me servirei da minha profissão para corromper os costumes ou favorecer o crime. Se eu cumprir este juramento com fidelidade, goze eu para sempre a minha vida e a minha arte com boa reputação entre os homens; se o infringir ou dele afastar-me, suceda-me o contrário”.
 
Justiça seja feita, ainda há muitos médicos fiéis ao juramento de Hipócrates. Mas uma boa parte deixou o juramento de lado e passou a fazer politicagem. Os conselhos regionais de medicina se tornaram instituições poderosas e fisiológicas que tratam a medicina como negócio, o médico como empresário e o paciente como mercadoria.
 
Desde que o Ministério da Saúde anunciou os programa Mais Médicos, os caciques dos CRMs declararam guerra ao governo federal, que só queria resolver o problema da defasagem de médicos no país, sobretudo nas regiões mais pobres, onde o profissional de jaleco branco e estetoscópio no pescoço povoa o imaginário coletivo da população, que todos os dias padece nas filas das unidades de saúde e nos corredores dos hospitais públicos à espera de atendimento. 
 
O corporativismo no CRM capixaba não foi diferente. Reportagem publicada no jornal o O Globo desse domingo (15) – “Sem pressa com a dor alheia” – destacou o Espírito Santo e Amazonas como exemplos de Estados que simplesmente se recusam a fornecer o registro provisório aos médicos estrangeiros para que eles possam trabalhar e ajudar a aliviar a dor de tantos brasileiros. 
 
O site do CRM-ES estampa com uma ponta incontida de orgulho a manobra corporativista da instituição que negou registro a três médicos: dois espanhóis e um capixaba formado na Bolívia.  O texto apresenta uma lista de argumentos para justificar que o programa do governo federal é ilegal. 
 
Falar que o programa fere a Constituição, a soberania nacional e até a dignidade da pessoa humana é fácil para os burocratas do jaleco branco, que nunca precisaram esperar à míngua na fila por um médico. 
 
Eles desconhecem ou parecem insensíveis ao martírio da população mais pobres, que não tem plano de saúde privado e é obrigada a encarar as filas quilométricas no SUS ou passar meses numa lista de espera aguardando para fazer um exame ou uma cirurgia. Muitos morrem esperando. 
 
Como esse não é um problema dos burocratas de branco, eles estão fazendo de tudo, sempre em nome do corporativismo, para evitar que o médicos estrangeiros venham ciscar no terreiro deles. 
 
Eles ficam fulos da vida quando ouvem que esses médicos estão preocupados em salvar vidas e não apenas enriquecer. Algumas frases, que não combinam com os atuais princípios de boa parte da classe, têm tirado os médicos do sério. Um grupo de médicos cubanos, recém-chegado ao Brasil, declarou: “Somos médicos por vocação, não por dinheiro”. 
 
O CRM capixaba e outros do país que continuam empenhados em travar o programa que só quer espalhar mais médicos pelo Brasil deveria, primeiramente, ouvir a população, que é a usuária final do serviço. É a população que tem de dizer se quer ou não o reforço dos estrangeiros. 
 
As opiniões colhidas nas ruas ou postados nos comentários dos sites noticiosos que têm tratado o assunto parecem não deixar nenhuma dúvida: os brasileiros querem mais médicos, independente da nacionalidade, cor ou raça.
 
Se a enquete colher a opinião das pessoas que estão nas filas dos postos de saúde ou nos corredores dos hospitais públicos ai então a pesquisa viraria covardia, sobretudo se o levantamento abordar os moribundos das regiões mais pobres do país – arrabaldes em que o médico é um ser etéreo que muitos ainda não tiveram o prazer de conhecer. 
 
A situação dessas regiões empobrecidas Brasil adentro não é muito diferente à de alguns países da África ou da América Latina. Nessas zonas de exclusão extrema, ações como as feitas pelos Médicos Sem Fronteiras, muitas vezes, fazem a diferença entre a vida e a morte. 
 
Longe da burocracia conservadora e elitista dos CRMs, a ação da organização humanitária reconhecida internacionalmente, como o própria nome sugere, mostra que o exercício da verdadeira medicina, que quer apenas salvar vidas, não tem fronteiras. Não importa a nacionalidade de quem cura ou é curado.

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