Sexta, 03 Mai 2024

Ferraço contra o diabo

Considerado o marco do cinema novo no Brasil, a produção de Glauber Rocha Deus e o diabo na terra do sol, de 1964, contava a história do sertanejo injustiçado que mata o patrão e um grupo religioso liderado por um santo (Sebastião) que lutava contra os grandes latifundiários e em busca do paraíso após a morte, mas os latifundiários contra-atacam contratando um matador para perseguir o grupo.



Essa discussão sobre o bem e o mal, tendo como pano de fundo um sistema de manutenção do poder, que em alguns casos esconde esquemas de corrupção, aconteceu na ficção e é muito bem observada na realidade política do Espírito Santo.



O discurso maniqueísta ganhou corpo no Estado a partir do início da década de 2000. Quando o Estado estava, nas palavras dos donatários do poder da época, devastado pelo crime organizado – o mal. Com a eleição de Paulo Hartung (PMDB), embasada na busca de uma “faxina ética”, criou-se a imagem do antídoto para os “desmandos” – o bem.



A partir desta premissa estabeleceu-se que ou se estava do lado dos bons, ou seja, dos arranjos políticos e institucionais, ou se estava do lado do mal. A classe política e as instituições foram convidadas a escolher um dos lados. E quem quer ser visto do lado do mal?



A partir da construção da unanimidade política em favor da reconstrução do Estado, ficou muito difícil ficar fora do sistema. Qualquer discurso que se afastasse da adesão total ao sistema, era relegado ao “outro lado”. Essa é a brecha aberta para as declarações do presidente da Assembleia Legislativa, Theodorico Ferraço (DEM), acusando o diabo pelas denúncias de envolvimento de seu nome em um escândalo de corrupção.



A relação de Ferraço com o arranjo nem sempre foi das melhores. Em alguns momentos ele não entendeu muito bem que a entrada no sistema significava cabeça baixa e obediência irrestrita e ensaiou alguns berros. Ultimamente, porém, ele conheceu o lado bom desse sistema, que protege os seus e ataca aqueles que ameaçam a unidade do grupo.



Nessa de levar para o campo metafísico a discussão essencialmente política, Ferraço peca. Se coloca acima de Deus, diz que vai perdoar, e delega ao Todo Poderoso a missão de vingar o presidente da Assembleia. Esqueceu o deputado que Deus é justo e não vingativo.



Fragmentos:



1 – Enquanto o mundo aguarda a fumaça branca no Vaticano, a classe política capixaba vai ficar de olho na escolha do coordenador da bancada capixaba, que deve, finalmente, sair nesta quarta-feira (6).



2 – Na escolha do Vaticano é difícil dar palpite, mas na escolha do coordenador as apostas estão no deputado federal Paulo Foletto (PSB). Até porque Iriny Lopes (PT) teria perdido um voto com a ausência de Rose de Freitas (PMDB) no encontro.





3 – Depois das derrotas de Olmir Castiglioni (PSDB) no Tribunal de Justiça, o caso da vaga da Assembleia parece ter adormecido, mas no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) não morreu, não. Segue a tramitação.

Veja mais notícias sobre Colunas.

Veja também:

 

Comentários:

Nenhum comentário feito ainda. Seja o primeiro a enviar um comentário
Visitante
Sexta, 03 Mai 2024

Ao aceitar, você acessará um serviço fornecido por terceiros externos a https://www.seculodiario.com.br/