Domingo, 28 Abril 2024

Genocídio juvenil

 

Na tarde dessa segunda-feira (25), no bairro Ulisses Guimarães, em Vila Velha, quatro adolescentes com idades entre 17 e 18 anos foram executados em plena luz do dia, segundo populares, com mais de 20 tiros. Embora o secretário de Segurança Pública André Garcia tenha tratado a chacina como um fato isolado, as estatísticas mostram que o assassinato de jovens, sobretudo negros, está em franca ascensão há anos.
 
De acordo com o Mapa da Violência 2012 (que analisa dados de 2000 a 2010), o Espírito Santo é o segundo Estado onde mais se assassina jovens (15 a 24 anos) no Brasil – só perde para Alagoas. Não por acaso também, Vitória é a segunda capital brasileira em taxa de homicídios de jovens por 100 mil habitantes, fica atrás apenas de Maceió (AL).
 
Outro estudo do Mapa da Violência, que faz um recorte sobre as mortes de jovens, revela dados impressionantes do Espírito Santo. O dado de 2008 mostra que 83% das causas de mortes de jovens estão relacionadas a fatores externos: homicídios (57,7%), suicídios (1,3%) e acidentes de trânsito (17,7%). 
 
Entre os não jovens, no entanto, a estatística se inverte: 84,4% das mortes correspondem a causas naturais e 15,2% a causas externas. Esse dado confirma que os jovens pertencem ao segmento mais vulnerável da sociedade: são os principais autores e também as principais vítimas da violência.
 
Na faixa etária estudada, que abrange o intervalo de 15 a 24 anos, a maior incidência de óbitos é registrada entre os jovens com idades de 16, 18 e 19 anos. Em proporção, dentro desses grupos etários, morrem mais negros do que brancos. A taxa de homicídios para jovens negros é de 64,7 contra 17,7 de brancos. O Espírito Santo é o terceiro estado do País onde mais se mata jovens negros. 
 
Os quatro jovens mortos se somam a outras cinco pessoas assassinadas somente nessa segunda-feira (25). De janeiro até ontem (25), segundo dados da Sesp, 408 pessoas foram assassinadas no Estado – uma a mais do que em 2012. 
 
Todos esses números desconstroem o discurso do secretário Andre Garcia, que insiste em afirmar que existe tendência de queda nas taxas de homicídios e que a chacina de Terra Vermelha foi um caso isolado.
 
Os dados mostram outra realidade. A violência continua fora de controle no Estado, não existe tendência de queda e a morte de jovens é um fato corriqueiro no Estado.
 
Estrategicamente, no entanto, Garcia está mobilizando mais efetivos para os bairros nobres da Grande Vitória, principalmente os da Capital e de Vila Velha. Os moradores dos bairros mais abastados já podem perceber a presença mais efetiva da polícia. O uso da cavalaria, que tem mais impacto visual, se intensificou propositalmente nesses bairros. Alguém já avistou cavaleiros em Terra Vermelha?
 
O problema é que em termos de efetivo de policiais, da gestão do ex-secretário Henrique Herkenhoff para a de Garcia, nada mudou. A diferença é que Garcia tenta mostrar para a população que é um “combatente” mais envolvido, corajoso e determinado que o seu antecessor na guerra contra a criminalidade. 
 
Mas, deixando a emoção de lado, quando se confronta números, se percebe que o problema da violência é crônico e ainda não existe a tendência de queda nos números de homicídios, como defende Garcia. 
 
A chacina dos quatro jovens é consequência da ausência do Estado por todos esses anos justamente nas áreas mais vulneráveis à criminalidade. Bolsões de pobreza como a região da Grande Terra Vermelha, cenário da tragédia, foram áreas esquecidas pelo poder público, que perdeu território para o crime organizado. 
 
O próprio secretário de Segurança apressa-se para justificar que os jovens mortos estavam supostamente envolvidos com o tráfico de drogas. Uma explicação que, infelizmente, conforta inconscientemente a sociedade. A frase mágica: “Estavam envolvidos com o tráfico”, pode ser traduzida no plano subjetivo mais ou menos assim: “Fazer o que, esses infelizes escolheram o caminho do crime e das drogas, que acaba geralmente atrás das grades ou a sete palmos do chão”. 
 
O secretário André Garcia, apesar do discurso, no fundo sabe que o cobertor é curto e não é capaz de cobrir regiões como Terra Vermelha. Ele também sabe que o Estado vai precisar de muito mais investimentos e tempo para se fazer Presente aos olhos dos segmentos mais vulneráveis da população. Nessas zonas de conflitos, infelizmente, o crime ainda é mais Organizado e Presente que o próprio Estado, que assiste impasssível a esse verdadeiro genocídio juvenil.

Veja mais notícias sobre Colunas.

Veja também:

 

Comentários:

Nenhum comentário feito ainda. Seja o primeiro a enviar um comentário
Visitante
Domingo, 28 Abril 2024

Ao aceitar, você acessará um serviço fornecido por terceiros externos a https://www.seculodiario.com.br/