Sexta, 29 Março 2024

Hora da faxina

 

O presidente do Tribunal de Justiça do Estado (TJES), desembargador Pedro Valls Feu Rosa, mostrou que as coisas definitivamente estão mudando no Estado. Aos poucos, ele começa a quebrar o arranjo institucional montado pelo ex-governador Paulo Hartung, que até outro dia controlava as principais instituições do Estado. 
 
Uma das instituições que faziam parte do arranjo do governo anterior, o Ministério Público Estadual, acusou o duro golpe do desembargador, que recusou a lista dos envolvidos na “Operação Lee Oswald”. Disposto a fazer uma senhora faxina para limpar toda a sujeira do Estado, Feu Rosa cobrou do MPES a exclusão de alguns nomes da lista. 
 
Ele não aceitou a manobra do MPES de tentar blindar alguns dos envolvidos. A estratégia da instituição, ao que parece, era entregar os peixes pequenos e liquidar a fatura, poupando os graudos. 
 
A manobra, no entanto, não surtiu efeito. No voto proferido pelo desembargador durante a sessão da 1ª Câmara Criminal desta quarta-feira (22), o presidente do Tribunal – que também relata a ação – pediu mais efetividade nas investigações por parte do MPES. Ele alertou que o caso não pode ficar restrito a um grupo secundário, como se a “Operação Lee Oswald” fosse algo de menor importância, “pequeno e paroquial”, como ele mesmo definiu. 
 
O desembargador ressaltou que o esquema deflagrado em Kennedy tem abrangência estadual e advertiu: “A existência de um ‘crime organizado’ que paira acima de pessoas, municípios, partidos políticos e órgãos do Poder Executivo em suas facetas municipal e estadual”. E vaticinou: “As investigações têm potencial para se tornar o maior escândalo de corrupção da história deste Estado”.
 
Nas estrelinhas da fala de Feu Rosa, fica o recado para ex-governador Paulo Hartung, que começa a ver o cerco se fechando. As irregularidades em Kennedy e outras prefeituras envolvem o governo anterior nas denúncias. Afinal, os deferimentos fiscais e a fila de empreiteiros que decidiam os rumos de licitações públicas em municípios capixabas ocorreram na gestão Paulo Hartung.
 
O presidente do Tribunal não deixa por menos e pergunta, enfático, sem rodeios: “Quantas das autoridades do presente e do passado mencionadas, a nível municipal e estadual, foram ouvidas? Quais contratos e atos foram recolhidos para comparação? Quais empresas mencionadas foram objeto de investigação”.
 
Enquanto Feu Rosa discursava, um dos principais integrantes do núcleo duro do ex-governador, o ex-chefe do MPES, Fernando Zardini – que representava a instituição no colegiado como procurador especial –, deve ter se encolhido na cadeira. 
 
Numa atitude desesperada, Zardini ainda tentou justificar a ausência dos nomes cobrados por Feu Rosa na lista. Ele alegou que as investigações ainda não foram encerradas e que a denúncia poderia ser aditada após novas descobertas. Mas os argumentos foram em vão.
 
Alguém precisava avisar Zardini que os tempos são outros, e que o presidente do Tribunal está disposto a faxinar o Estado de cima a baixo, como ele mesmo advertiu: “A população capixaba precisa saber que ‘estrutura piramidal’ de corrupção é esta, e quem estaria lá no topo, pontificando como chefe do crime organizado e decerto rindo da impunidade de que gozaria. Não podemos excluir estas pessoas sem que tenha havido a devida apuração”, finalizou Feu Rosa, confirmando que a Justiça capixaba, definitivamente, atravessa um novo momento. 

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