Segunda, 29 Abril 2024

Hora de cobrar o troco

 

É no mínimo curioso o fato de Itapemirim aparecer relacionado entre os municípios envolvidos no esquema de contratações ilegais de consultoria e a ex-prefeita da cidade, Norma Ayub, não ter tido o mesmo destino dos colegas, que acabaram presos na última segunda-feira (14) com a deflagração da operação Derrama. 
 
Ora, se os sete ex-prefeitos seguiam o mesmo modus operandi para “recuperar” tributos devidos por grandes empresas e agora estão detidos, o enquadramento não valeria também para a ex-prefeita da cidade sulista?
 
Essa dúvida atroz dá margem para outra questão: teria havido alguma articulação política para poupar a ex-prefeita de figurar no escândalo? Imaginem se Norma tivesse sido presa, seria uma tragédia para Ferraço, justamente no momento mais crucial ele - reta final do processo que deve reconduzi-lo à presidência da Assembleia Legislativa no biênio 2013-2014.
 
Essas perguntas continuam abertas e já devem estar encafifando muita gente. De outro lado, para amainar a repercussão do escândalo, que continua reverberando na mídia, Ferraço se apressou para ratificar o apoio do seu principal cabo eleitoral: o governador Renato Casagrande. A estratégia é mostrar à classe política que o acordo para reelegê-lo não foi afetado pelas denúncias da Derrama. 
 
Se o apoio do chefe do Executivo está assegurado, Ferraço sabe que já tem mais de meio caminho andado. A segunda parte, que é manter os deputados alinhados ao seu projeto de reeleição, é a mais fácil. 
 
Neste quase um ano de mandato, em substituição a Rodrigo Chamoun, que foi para o Tribunal de Contas, Ferraço mostrou que é um presidente disposto a defender corporativamente os interesses dos colegas, custe o que custar. 
 
Nesse curto mandato, ele já deu inúmeras provas de sua fidelidade. Foi assim, por exemplo, quando ele se desdobrou para blindar o deputado José Carlos Elias, que estava na iminência de perder o mandato. Com o ex-deputado Nilton Baiano o esforço também foi grande, mas não deu. 
 
Ainda no escopo das realizações corporativistas, o presidente da Casa assegurou a aprovação da Emenda 85, que garante a deputados e ex-prefeitos imunidade, impedindo que juízes de primeira instância os julguem. Ponto para Ferraço.
 
Para ficar bem com todos, Ferraço ainda recorreu ao seu perfil mais populista e entrou de cabeça na briga pela reposição dos 11,98% dos servidores da Assembleia. Na queda de braço com o governo, colocou Casagrande como vilão e saiu como herói. 
 
Pelo conjunto da obra, é remotíssima a chance de algum parlamentar, um que seja, lançar dúvida sobre o imbróglio envolvendo a prefeitura de Itapemirim. 
 
Já com a mão espalmada esperando o troco, que vem em forma de reconhecimento e gratidão pelos "bons préstimos", Ferraço sabe que está com a faca e queijo na mão. A recomendação é para os colegas aproveitarem este final do recesso para mergulhar fundo, e voltar à tona quando a turbulência da Derrama passar. Depois, é só correr para o abraço e comemorar a reeleição. 

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