Segunda, 29 Abril 2024

Ignorando Morin

Dia desses o governador Renato Casagrande foi à TV para falar sobre os investimentos na educação e listou um punhado de projetos com nomes bonitos. Seu antecessor, Paulo Hartung, se arvora a comentarista de educação. Quem olha de fora, enche os olhos e pensa, essa é a parte do Espírito Santo que tem menos problemas.



Ledo engano. A educação vai mal, muito mal. Está totalmente em descompasso com esse desenvolvimento econômico que se prega para o Estado e insiste em não atingir as metas nas avaliações do Ministério da Educação. Tudo isso porque o governo ignora Morin.



No governo Paulo Hartung e agora no governo Casagrande a educação é tratada como um produto, a escola como uma fábrica, os estudantes como o os consumidores desse produto final e os professores, bem os professores são os operários que têm fazer essa grande engrenagem funcionar. Mas não está funcionando.



É que a educação não se enquadra nas planilhas, nos projetos, na barganha da força de trabalho. Educação é complexa. O pensador e sociólogo francês Edgar Morin percebe sala de aula como um universo complexo, que engloba uma variedade de disposições, estratos sócio-econômicos,  emoções e culturas. Não é homogêneo, como a fábrica, não é calculável como a matemática, do economista Haroldo Rocha ou do físico Klinger Barbosa.  



Em seu “Os sete saberes necessários à educação do futuro”, Morin mostra alguns conceitos que devem ser observados e que extrapolam e muito o plano de aula e o currículo escolar.  Conhecimento, identidade, condição do meio, ética, incertezas estão entre os saberes necessários.  



Outro francês, Pierre Bourdieu fala da necessidade do respeito às idiossincrasias na sala de aula e na escola, do respeito à vivencia do estudante. Mas a necessidade de resultados, baseado em números que garantirão boas manchetes de jornal é mais importante para o governo do que apostar em uma educação que realmente prepare o aluno, não só para o mercado de trabalho, mas também para a crítica.



Se querem trabalhar com números, os burocratas da educação podem se basear nos do ranking da violência, no de jovens assassinados, de mulheres assassinadas, no de acidentes de trânsito, nos da fila do SUS. Mas educação não pode ser tratada apenas como estatística, como meta a cumprir. Educação é coisa séria e para reduzir os números da violência, é melhor aumentar os da educação.







 

Veja mais notícias sobre Colunas.

Veja também:

 

Comentários:

Nenhum comentário feito ainda. Seja o primeiro a enviar um comentário
Visitante
Segunda, 29 Abril 2024

Ao aceitar, você acessará um serviço fornecido por terceiros externos a https://www.seculodiario.com.br/