Muito antes do divórcio finalmente chegar ao Brasil, a gente acompanhava pelas revistas de fofocas as frequentes desuniões dos famosos de Hollywood, e o motivo era sempre o mesmo – incompatibilidade de gênios. Era criança e a expressão me encantava, coisa mesmo de gente divina maravilhosa – gênio seria aí uma qualificação profissional e não uma vulgar variação de humor. Ou seja, eles eram gênios e por isso não precisavam se entender.
Hoje sei que não apenas os gênios, mas também o comum dos mortais sofre variações de temperamento que podem acabar com casamentos, carreiras e amizades. Mesmo assim, as separações são mais explícitas – Não aguento mais o mau humor do Lino; Minha mulher vive em eterna TPM; O Nando não para em emprego nenhum, é um encrenqueiro. Como na vida quanto mais se vive menos se aprende, deparo finalmente com um casal se separando por incompatibilidade de gênios.
Paul e Deny são jovens, bonitos, bem de vida, e estão loucamente apaixonados. Apesar de um ano de convivência amorosa, vive cada um no seu canto porque os cachorros de ambos não conseguem se entender. Por causa dessa incompatibilidade canina, o que seria um belo romance está à beira do desperdício. Paul quer que a amada vá morar com ele, ela diz que a Sally dele é muito implicante; Deny concorda que passou da hora de unirem o endereço, ele diz que o Teddy dela tem um gênio de cão.
Resultado, os dogs, mesmo de boa estirpe, nutridos com alimentação orgânica e assistidos por psicólogos, não se toleram. As muitas e caras sessões de terapia não estão funcionando para Sally nem Teddy, o que nos ensina que, antes de iniciar um relacionamento que pode ou não subir na escala Richter, antes de divulgar o romance no Facebook e antes da apresentação às famílias, é imperativo fazer o teste de compatibilidade dos respectivos cachorros.
Casos da família rejeitar a outra parte envolvida em um romance são comuns mesmo nesses dias em que estão usando o zap-zap pra informar a chegada do primeiro filho. Entre pessoas civilizadas, esses atritos são perfeitamente contornáveis, ou pelo menos aceitáveis. E se tudo mais falhar, são simplesmente ignorados, porque o amor tudo pode. Na vez dos cachorros, porém, e embora os casos sejam raros, não há como contornar ou relevar.
Até o momento em que essa coluna está sendo lapidada, Paul e Deny continuam juntos/separados, nem lá nem cá. Mas paciência é igual caixa de chocolate , e tem hora que acaba. As famílias, os amigos comuns, os dois veterinários e até mesmo os porteiros dos edifícios onde moram estão preocupados. Ela vai e nunca leva o cachorro… cochicha o Porteiro A para a fofoqueira do nono andar; Ele vai e deixa o cachorro… comenta o Porteiro B com o entregador do FedEx.
Os deuses e deusas de Hollywood tiveram seu glamour, mas esse tempo passou e não volta mais. Os casamentos e relacionamentos dos ricos e famosos de hoje começam e acabam sem embaraçosas explicações aos fãs e colunistas de fofocas. Mas conhecendo o drama amoroso de Paul e Deny, pessoas comuns como nós, não é difícil imaginar quantos romances entre nossos ídolos acabaram por incompatibilidade de gênios de seus cachorros de estimação. Quando sabem do motivo todos comentam, Pobres cachorrinhos!