Quinta, 28 Março 2024

Indiferença, o pior dos sentimentos



Apesar das impressionantes taxas de homicídios que mantêm o Espírito Santo no topo da lista dos estados mais violentos do País há mais de uma década, as autoridades parecem ter aprendido a conviver com o problema. Pior, parte da população também já não se indigna mais com a violência.



As matérias publicadas nesse fim de semana em Século Diário atualizaram (até 22/11/2012) as taxas de homicídios nos 11 municípios mais populosos do Estado. Os dados revelam que sete das 11 cidades pesquisadas têm índice de homicídios maior que a média estadual, que é de 46 assassinatos para cada grupo de 100 mil habitantes.



Serra, por exemplo, que ocupa o topo da lista, tem 81 homicídios/100 mil habitantes. A taxa é quase o dobro da estadual e mais de quatro vezes superior à média do País, que está na casa de 20.



Os dados mostram ainda que na lista das cidades mais violentas, entre as mais populosas, São Mateus aparece em segundo, com índice de 66/100 mil. O dado revela que a violência, já há alguns anos, migrou da Grande Vitória para o interior do Estado, sobretudo para o norte, onde os índices são muito superiores aos do sul.



Por exemplo, enquanto Cachoeiro de Itapemirim – município mais populoso do sul (189 mil habitantes) – projeta uma média de 16 assassinatos por 100 mil para este ano, Pinheiros, no extremo norte, projeta impressionantes 126 homicídios/100 mil, quase oito vezes a média de Cachoeiro, cerca de três vezes a estadual e mais de seis a nacional.



A situação da vizinha Conceição da Barra não é diferente, com projeção para 2012 de 93/100 mil. Não custa lembrar que a Organização Mundial de Saúde (OMS) considera acima de 10 homicídios por 100 mil habitantes violência epidêmica. Já as taxas que superam os 50 assassinatos por 100 mil, segundo a OMS, representam que a região está em guerra civil. De acordo com a recomendação da OMS o Estado está em guerra civil. Mas nada disso parece sensibilizar as autoridades.



Na semana passada, Século Diário pôs no ar uma enquete para saber “qual é a percepção do eleitor em relação à violência”. Pelo menos, para os 642 leitores que responderam à enquete, 45% se disseram indignados com a violência; outros 44% afirmaram que a segurança está abandonada, e que falta empenho do poder público para resolver o problema. Apenas 7% opinaram que acham a situação normal, pois já aprenderam a conviver com a violência. Outros 3% se disseram indiferente ao problema.



Nesse segmento dos “indiferentes” devem estar incluídas as autoridades públicas. Nem as taxas de guerra civil os mobilizaram para reverter o problema. É inaceitável que um Estado permaneça por mais de uma década na lista dos mais violentos do País sem que seus governantes se empenhem para mudar esse cenário.



Como comentou na matéria o leitor Marcos Marinho Delmaestro, a situação é de guerra. Vejam o desabafo: “Guerra! Números de Guerra... Não sei como um péssimo gestor público que não fez NADA para conter essa violência (...)”.



Ainda bem que há pessoas que se indignam. O leitor tem toda a razão. A violência, embora caótica, é tratada com normalidade pelas autoridades. Pior, é tratada com indiferença, um sentimento muito mais preocupante. A sociedade precisa se indignar para acordar as autoridades.

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