Quem acompanha mais de perto as sessões da Assembleia Legislativa, há de convir que o deputado Sérgio Majeski (PSDB) vem se destacando dos demais colegas de Plenário. O tucano não é nenhum fenômeno da política, mas está apenas exercendo seu mandato com responsabilidade e respeito ao eleitor, ou seja, com o foco nas demandas da sociedade. Seu mandato não foi penhorado a empreiteiros, empresários ou grupos políticos. Seu “lobby” tem sido com povo, especialmente com as pautas ligadas à educação.
Mas exercer o papel de fiscal da sociedade no parlamento não tem sido uma tarefa das mais fáceis para o tucano, porque a maioria dos deputados não está ali com esse mesmo propósito. Majeski, provavelmente, se sente um peixe fora d’água.
Essa situação de “estranho no ninho” se repetiu na sessão desta segunda-feira (2) da Assembleia. Dois projetos de Majeski deram pano pra manga. O Projeto de Resolução 39/2015 proibia a possibilidade da votação de emendas parlamentares ao Orçamento estadual em bloco. “É o momento em que os parlamentares têm de influenciar de forma objetiva como o dinheiro será utilizado. Hoje, se vota um bloco de 20, 30 emendas. Elas são votadas e reprovadas independentes do teor”, justificou o parlamentar.
Majeski, convenhamos, tem toda a razão. Não é novidade para ninguém que a maioria dos deputados está ali para chancelar os projetos do Executivo de olhos fechados. Quando o tucano propõe a discussão cuidadosa do Orçamento, lembrando que é ele que dá as diretrizes para as política públicas, causa estranheza no Plenário.
Os governistas, na tentativa de convencer o Plenário que o ponto fora da curva é Majeski, apresentam as ideias mais estapafúrdias. O líder do governo na Assembleia, Gildevan Fernandes (PMDB), para mostrar que o projeto do tucano era “anomalia”, disse que os deputados demorariam 20 ou 30 sessões se fossem analisar emenda por emenda.
Ora, mas os deputados não são pagos (e muito bem pagos) para isso? Se perde tanto tempo com assuntos secundários e sem importância na Assembleia. Quando se precisa discutir uma matéria realmente vital para a sociedade, como é o caso do Orçamento, os deputados alegam que não há tempo. Se o problema é tempo, basta que passem a trabalhar de segunda a sexta em período integral, como a maioria dos trabalhadores.
Mas não foi só esse projeto de Majeski que o Plenário atropelou. O Projeto de Resolução 27/2015, que determinava que se cinco requerimentos de informação dos deputados a secretários de Estado fossem acumulados, a Mesa Diretora teria poder para levar a votação no Plenário um requerimento solicitando a convocação dos gestores para esclarecimentos.
Para justificar o PR, o deputado do PSDB lembrou que só ele tem 10 ou 15 requerimentos sem resposta. Um deles, asseverou o deputado, aguarda resposta há mais de seis meses. Majeski saiu derrotado de mais essa votação sem entender qual era o acinte do projeto que tenta impor um pouco de respeito aos comandados de Hartung, que seguem ignorando solenemente os pedidos de informações dos deputados. Majeski tentou alertar os colegas que a derrota do projeto reforçava a conduta displicente dos secretários, mas não adiantou.
Não bastasse ver dois projetos dessa importância derrotados, Majeski ainda foi obrigado a escutar desaforos destemperados de José Esmeraldo. O deputado do PMDB, que entrou na suplência de Rodrigo Coelho (PDT) graças às manobras políticas do governador, confirmou que veio para a Casa para fazer o papel de “batedor” de Hartung.
Por mais bizarro que possa parecer, o deputado que lutava na sessão de hoje pelos direitos da sociedade, saiu da Assembleia como vilão da história. Uma flagrante inversão de valores.