Segunda, 29 Abril 2024

Jubileu de diamante!

 

Como acontece todos os anos, em maio comemoro meu aniversário. Já se tornou uma tradição. E quanto mais velinhas vou pondo no bolo, mais motivos tenho para regozijo. Esse ano as mangas chegaram mais cedo, acho que para me presentear. Quem tem mangueiras em casa e bom coração no peito, põem nas calçadas grandes cestos cheios de mangas, com um cartaz dizendo que pode pegar, são de graça.
 
Deixam ainda sacolinhas plásticas ao lado, na doce ilusão de que a primeira pessoa que passar não vai levar todas. Tenho que acordar mais cedo. As mangueiras de hoje me lembram o risonho Alegre, com suas mangueiras envergando de tanta manga. A criançada saía em bando, batendo nas portas, Pode pegar? Pode! Nosso paraíso era chácara do Bransildes, cheia de mangueiras transbordando mangas de todos os tipos.
 
A gente batia palmas e D. Jovelina vinha de lá, bonita e generosa, e fossem amigos ou desconhecidos, nem precisava pedir, Pode pegar à vontade! A chácara ficava onde hoje está (ou estava?) o ginásio do Professor Amim e do Manuel Ferraz, se não me falha a memória. Portanto pago. Era o único na cidade, depois vendido para o estado. Imponente no alto do morro, sem a escadaria e sem calçamento, na época das chuvas era uma desgraça!
 
Muitos alunos tinham que voltar pra casa para trocar de roupa, pois escorregavam na lama. Estranhamente, o número de quedas se intensificava nos dias de provas. Os professores levavam
 
bengalas para se apoiarem, mas a turma jovem adorava o desafio de vencer a subida e a diversão de ver as quedas. O sonho era ver um professor cair. Era o tempo do Chiquinho vem aí, e quando veio, os salários estavam sempre atrasados.
 
Meu pai era funcionário público e mandava levar um bilhetinho, Dr. Chiquinho não pagou, favor permitir a entrada da aluna. Pensa que eram simpáticos? Outra vez? Quem mandou votar
 
no Chiquinho? Minha casa tinha uma mangueira, e ficava a meu cargo pegar e distribuir as mangas. Não que eu fosse prepotente, é que eu já morava mesmo lá no alto. Dividindo o quarto com duas irmãs, a mangueira era meu refúgio, um cantinho só meu.
 
Protegida pela farta folhagem, ali eu estudava, lia, meditava, sonhava. Até que Da. Antonia, maravilhosa professora de português do ginásio, reclamou com meu pai, Sua filha está quebrando minhas telhas. É que minha mangueira esticava os galhos para o telhado vizinho, e lá ia eu também esticando meus domínios. Para apaziguar os reclamantes, meu castelo foi podado, e metade do meu mundo se perdeu.
 
Mantendo a tradição, meu filho tem uma mangueira no quintal, guardada a sete cadeados. Barram intrusos mas não impedem a invasão dos esquilos. A mangueira é pequena, e continuando a tradição, sou a única que vai lá tirar as mangas ainda de vez, antes que amadureçam e eles levem todas. Quer dizer, tantos aniversários acumulados na agenda, e continuo guardiã das mangas da família.

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