Segunda, 29 Abril 2024

Judicialização e mortes

Logo que assumiu o comando do Estado, em 2011, o governador Renato Casagrande mostrava preocupação com pelo menos três importantes gargalos que sufocavam o desenvolvimento do Espírito Santo: aeroporto, portos e BRs. De 2011 para cá, apesar da boa relação do PSB com o governo federal, podemos dizer que o Estado só conseguiu avançar – é isso foi ainda outro dia – na questão dos portos. 

 
Aeroporto e BRs continuam no campo dos sonhos distantes. A novela do aeroporto Eurico Sales, de tão antiga, já se tornou até sem graça. A obra que foi embargada pelo Tribunal de Contas da União por superfaturamento ainda está longe de ser retomada. 
 
Enquanto o imbróglio não se desenrola, a solução tem sido improvisar com seguidos “puxadinhos”. Lembram daquele outdoor chamativo, instalado na área da Infraero, na esquina das avenidas Dante Micheline com a Simão Nader, que exibia uma maquete do “Novo Aeroporto Internacional de Vitória”? Pois é. A ação do tempo já se encarregou de apagá-lo e depois derrubá-lo. Junto com ele também se foi a esperança de muitos capixabas, que já não sabem mais se viverão para ver o “novo” aeroporto.
 
No início deste ano, o governador Casagrande se entusiasmou com o leilão de licitação da BR 101. Deve ter pensado: “se voar está difícil, vamos por terra mesmo”. Tão logo o consórcio vencedor foi anunciado, já havia muito gente se enchendo de esperanças. A expectativa, se mais esse projeto não tivesse ficado pelo caminho, era de que as obras da nova BR 101 estivessem prestes a começar.
 
Nesta sexta-feira (21), duas notícias deram contornos dramáticos a mais esse imbróglio que se soma à novela do aeroporto. Um programa do governo federal, que quer reduzir os acidentes nas BRs do Natal ao Carnaval, avaliou quais são as rodovias mais perigosas do País. A BR 101, não podia ser diferente, no trecho capixaba, está entre as dez mais mortais. 
 
É por isso que muita gente ficou esperançosa com a notícia da privatização da estrada. Afinal, as melhorias prometidas com a concessão poderiam poupar vidas. Porque, vamos ser honestos, por mais prudente que seja o motorista, não dá para trafegar com segurança numa rodovia que foi planejada para um Brasil da segunda metade do século passado, quando cantávamos na década de 1970, na conquista do Tri, que éramos “90 milhões em ação”. Hoje somos mais que o dobro, mas a velha BR 101, pelo menos no trecho capixaba, continua formatada para atender à tímida frota de Fenemês e fusquinhas que trafegavam pelo rodovia nos anos de 1970.
 
Como todo castigo é pouco e o que já está ruim sempre pode piorar, o presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro Felix Fischer, manteve nesta sexta (21) a decisão que determinou a suspensão da assinatura do contrato de concessão de trecho da rodovia BR 101. O ministro indeferiu pedido da União e da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), que pretendiam suspender a decisão judicial, sustentando sua ilegitimidade.
 
Resultado: continuamos com um aeroporto que mais se assemelha a uma rodoviária e reféns da principal rodovia que corta o Estado que, vira e mexe, costuma matar seus viajantes. 

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