Durante a campanha eleitoral de 2012, o ex-governador Paulo Hartung (PMDB) decidiu fazer suas primeiras aparições públicas depois que deixou o governo, no final de 2010. Numa dessas incursões eleitorais, o peemedebista esteve em Guarapari, declarando apoio ao então prefeito Edson Magalhães (PPS) – que mais tarde teria a candidatura impugnada pela Justiça Eleitoral.
Foi na movimentação política no balneário saúde que Hartung soltou a frase: “Estou livre, leve e solto”. Ele queria dizer que os compromissos com seus candidatos estavam acima das questões partidárias.
Na verdade, o “livre, leve e solto” de Hartung tem conotação mais ampla que sua mobilidade eleitoral. Desde que deixou o governo, os ex-chefe do Executivo estadual vem colecionando denúncias sistemáticas na Justiça.
Um dos casos é o da Escelsa EDP, tema de reportagens publicadas esta semana em Século Diário. O jornal revelou, sempre em cima de fatos e abundante prova material, que houve tráfico de influência envolvendo o seu governo e a transnacional do setor de energia elétrica.
As reportagens já demonstraram, de maneira inapelável, que Hartung facilitou a venda de uma área – a preço de banana – para a EDP Escelsa e beneficiou a empresa com milionárias isenções fiscais via Invest-ES.
Tudo isso à revelia da Procuradoria Geral do Estado (PGE), que recomendou ao então governador a licitação do terreno. Mais tarde, menos de dois depois de deixar o governo, ele apareceria como membro do Conselho da EDP, comprovando que as manobras para favorecer a empresa tinham lhe garantido futuras contrapartidas.
Os leitores que acompanharam as reportagens demonstraram indignação com um fato que vem se tornando recorrente, sempre quando o alvo da denúncia é o ex-governador Paulo Hartung.
Diante de tantas evidências contra o ex-governador, um leitor adverte: “E o MP não vai fazer nada. Pois o MP só funciona para perseguir os adversários do governo, com raras exceções”.
Outro leitor, também no mesmo tom de indignação, completa: “Impressionante. A impunidade deste rapaz está desmoralizando o Estado. Ele ultrapassou todos os limites”.
Um terceiro, ainda mais encafifado com a blindagem do ex-governador, desabafa: “Eu não entendo, com tantas denúncias contra PH e ele continua a ter espaços na mídia e no governo atual, ou sou muito burro… Parece que ele mapeou o Estado todo, em todo lugar tem dedo dele. Deveríamos mudar o regime de governo, aqui no ES e colocarmos ele como Rei e ditador,,Pois ele manda e desmanda e ninguém nada faz”.
Outros comentários seguem nesse mesmo diapasão. Em síntese, apontam a impunidade e a omissão das instituições, que deveriam fiscalizar esse tipo de denúncias. Por exemplo, o Ministério Público Estadual e Tribunal de Contas do Estado, que ainda permanecem condescendentes ou mesmo inertes diante dessa e de outras denúncias. Como será que anda o caso do “Posto Fantasma” de Mimoso? O MPE e o TCE não vão investigar o “sumiço” dos R$ 25 milhões empregados numa obra que nunca saiu do papel?
É esse clima de impunidade que confere toda essa segurança para o ex-governador continuar dizendo abertamente, não só em relação à política, que está “livre, leve e solto”.