Sexta, 03 Mai 2024

Longe dos olhos, perto do coração

 

Essa pérola do sentimentalismo humano deve ter sido cunhada por Confúcio, que cultivava lótus em seu jardim.  Alguma alma sensível, procurando algo para minimizar suas mágoas, viu na singela frase  uma definição da saudade,  como se saudade carecesse de definição.  O afastamento indesejado é uma constante nas interações humanas, pelo menos para uma das partes.  Alguns longos, alguns eternos, mas por curtos que sejam  machucam o coração e deixam sequelas.
 
 
Na verdade,  Confúcio não lamentava o afastamento de uma pessoa querida, ou mesmo do Buda, ao criar a famosa  frase, e sim às suas flores.  O monge saiu em uma peregrinação  justamente no dia em que as flores de lótus desabrochariam no pequeno lago de seu jardim. Entendo seu sentimento, porque o lótus é planta caprichosa. Vicejando no lodo, à noite a flor se fecha e submerge, como uma ninfa envergonhada de sua própria beleza.
 
Leva então três dias para vagarosamente emergir; na manhã do terceiro dia a flor se abre na superfície da água, exibindo toda sua beleza e pureza... sem ter sido maculada pela sujeira do lodo onde se escondeu. À noite ela submerge outra vez. Confúcio tinha que viajar exatamente nesse dia?  Essa característica da flor do lótus a tornou sagrada em muitas culturas.
 
Porque morre para voltar à vida três dias depois, os egípcios a cultuavam como símbolo do renascimento - a vitória da alma sobre a morte. E como toda a cultura do antigo Egito era voltada para a morte, a flor de lótus era também associada a ela. O famoso Livro dos Mortos continha magias para transformar o morto em flor de lótus, ganhando assim a eternidade.
 
E porque a flor do lótus emerge sem mácula das águas sujas onde vive e se esconde por três dias, os budistas a cultuam como símbolo de pureza - a vitória da virtude sobre as tentações humanas. Para o hinduísmo, a flor do lótus simboliza beleza, fertilidade, prosperidade, espiritualidade e eternidade. Em muitas culturas ela simboliza o nascimento divino, o crescimento espiritual e a pureza do coração e da mente.
 
Também é símbolo de longevidade e resistência, porque suas sementes podem ficar hibernando por mais de mil anos, e renascem quando caem na água. Por certo foi esse o motivo da tristeza de Confúcio ao se afastar de casa exatamente no dia em que suas flores de lótus iam subir á superfície, e a transformou também no símbolo da esperança dos ausentes  – a flor se afasta por três dias, mas sempre retorna.
 
Hoje em dia andamos mais preocupados com a pureza do nosso crédito e o renascimento do status social  perdido nas inconstâncias da economia internacional. Maria se casou com Iasyn pelo alto valor de seu patrimônio, e vive perto dos olhos e longe do coração.  Maria se compara ao lótus que se esconde em seu jardim..... submerge, mas talvez um dia ainda possa renascer.

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