Sexta, 03 Mai 2024

Maquiagem verde

 

De tempos em tempos, iniciam-se processos de certificação das empresas poluidoras, uma com histórico de violações e agressões ambientais mais cabeludo do que a outra. O recente caso da Aracruz Celulose (Fibria), que acaba de receber o selo “verde” da FSC - Forest Stewardship Council – é um exemplo claro de que não há o mínimo critério nesse mercado lucrativo das certificações. Carimbar plantas industriais “sujas” como sustentáveis é prestar um desserviço à sociedade. A maquiagem vira estratégia de marketing para enganar a população. 
 
É o que faz intensamente a Aracruz, que nunca foi boba. Nos últimos dias, propagandas espalhadas em outdoors, rádio e etc, etc e etc tentam atestar com veemência o quanto a empresa é preocupada com o meio ambiente e responsável com as comunidades localizadas no entorno de seus extensos plantios de eucalipto no norte do Estado. Aos desavisados, o enredo soa como canção; aos que conhecem o mínimo da trajetória da empresa no Estado, é um desaforo. 
 
O tal selo da FSC considera que a madeira utilizada na produção da celulose provém de “florestas manejadas de forma responsável” e “mostra a seriedade com que a empresa abraça o compromisso assumido com a sociedade”. A melhor parte vem agora: “está em sintonia com a filosofia da Aracruz: desenvolver o negócio florestal renovável como fonte sustentável de vida e dele obter valor econômico, gerando lucro admirado ao promover a conservação ambiental, a inclusão social e a melhoria da qualidade de vida”. Seria cômico, se não fosse trágico. 
 
Para se ter uma ideia do grau da incoerência, a Aracruz tem agora todas suas unidades - áreas de operações no Espírito Santo, Bahia e Minas Gerais - certificadas pelo FSC, uma organização da Alemanha. Em cada estado deste, há uma lista de problemas, impactos e prejuízos econômicos e sociais que resultaram em movimentos de resistência. Ações judiciais, denúncias de todo tipo - inclusive a organismos internacionais –, episódios de agressões e prisões arbitrárias, favorecimentos e muita degradação completam o currículo manchado da Aracruz. 
 
Bem perto de nós, temos os casos envolvendo indígenas, quilombolas e camponeses do Estado, além da relação promíscua da Aracruz com a classe política capixaba, que são emblemáticos nesse contexto. E a maior prova de que de verde a empresa não tem absolutamente nada. Muito menos qualquer responsabilidade no campo social. A Aracruz Celulose nunca nem se dispôs ao diálogo com as comunidades impactadas, imagine o resto. Há três anos, apenas mudou de nome e algumas formas de cooptação, mas continua exatamente a mesma, sem tirar nem pôr. 
 
O selo FSC serve apenas para reforçar um cenário que pinta a realidade com as cores da Aracruz, totalmente distorcido da realidade. Quem ganha com isso é somente a própria FSC, que certamente vende muito bem seu serviço, e a empresa, que faz um ótimo uso das mentiras propagadas pela certificação. Ah, e também a Imaflora, a empresa brasileira responsável por conduzir o processo. 
 
Um prato cheio para a Aracruz se legitimar cada vez mais e ampliar seus negócios, atrás de mais e mais lucros. 
 
Enganação pura. 


 
Manaira Medeiros é especialista em Educação e Gestão Ambiental

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