Terça, 07 Mai 2024

Maquiando dados

 

Na gestão do ex-secretário de Segurança Pública Rodney Miranda era comum o governo manipular dados para amenizar os números da criminalidade que continuavam em franca ascensão. 
 
O atual secretário Henrique Herkenhoff parece ter gostado da fórmula do antecessor e também decidiu recorrer à maquiagem dos dados. Nessa quarta-feira (14), a Sesp publicou o balanço dos crimes no carnaval 2013. A chamada da notícia alertava: “Cai em 56% número de homicídios durante o Carnaval no ES”. 
 
Sem dúvida, uma boa notícia para todos nós que convivemos com taxas de homicídios de guerra civil há mais de uma década. Entretanto, o confuso texto “escondia” um dado surpreendente. A Sesp, na verdade, tentou induzir o leitor ao erro ao anunciar que houve uma redução de 56% durante o carnaval. 
 
A manipulação da informação fica flagrante quando o texto “esclarece” que está comparando os dados do carnaval 2013 com o mesmo período do ano passado. O intrigante é que o setor de estatística da Sesp não estava comparando os dados dos carnavais 2013 e 2012, e sim o número de homicídios registrados no carnaval deste ano com a data correspondente de 2012. Em outras palavras, a Sesp comparou “alhos com bugalhos”. 
 
Não há nenhum sentido em comparar dados de períodos distintos e produzir um texto com enunciado equivocado. Não há outra explicação para justificar a construção da informação, a não ser tratá-la como “mal intencionada”. 
 
O texto deixa patente que não há nenhuma preocupação da Sesp em informar qual o percentual no comparativo dos carnavais 2013 e 2012, que na verdade beirou a casa dos 15% - quase quatro vezes menos do que o percentual propalado pela Sesp.
 
Mais constrangedor é ver o secretário Henrique Herkenhoff festejando os resultados como se fosse normal comparar bases distintas de dados. “As Polícias Civil e Militar fizeram um planejamento específico. No período do carnaval, comparado ao ano passado, diminuiu não só o número de homicídios, mas também o número de furtos e roubos”, alardeou Herkenhoff.
 
Na fala de Herkenhoff, publicada no site oficial da Sesp, fica claro que a informação, no mínimo, deixa no ar um sentido dúbio, que pode colar: “No período do carnaval, comparado ao ano passado (...)”. 
 
A desenrolar do texto da Sesp põe a informação em contradição. “A Polícia Militar planejou mais de 1.700 escalas extras para aumentar a segurança da população durante o Carnaval, na Região Metropolitana da Grande Vitória. O policiamento durante o feriado contou também com o apoio do Batalhão de Missões Especiais (BME), Ronda Ostensiva Tática Motorizada (Rotam) e Regimento de Polícia Montada (RPMont)”, informa o texto. 
 
Ora, não há dúvida de que houve uma operação especial da polícia para coibir a criminalidade nos dias de carnaval. A contradição está justamente no fato de que no período comparado – 09 a 12 de fevereiro do ano passado -, como não era carnaval, não houve nenhum esquema especial como o montado este ano. Esse dado por si só desconstrói a tentativa descabida de comparar bases de dados diferentes, pois as condições eram completamente distintas. 
 
Mas honesto seria a Sesp informar que houve uma redução de 15% no número de homicídios no carnaval deste ano em relação ao carnaval do ano passado. A redução é bem menor que os 56% festejados pelo secretário. Mas seria um dado transparente, limpo, sem a maquiagem grosseira feita para iludir a população. 

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