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Matem o mensageiro!

Uma prática comum em tempos antanhos era matar o mensageiro se a notícia fosse ruim. No entanto,  nunca ouvi falar que fossem promovidos ou recompensados se a notícia fosse boa.  Por que os praticantes de profissão com tão alto índice de periculosidade, sabendo de antemão que a mensagem era ruim, mesmo assim enfrentavam terríveis obstáculos  para entregá-la a tempo e hora? Ossos do ofício, teriam respondido, se vivos fossem.
 
Para tanto eram bem treinados nas artes de varar acampamentos adversários, correr dias e noites sem parar quando a mensagem era vital, e se livrarem de assaltantes e  inimigos postados no caminho justamente para impedi-los de seguir adiante. Apesar de tantos obstáculos, o fiel mensageiro solenemente entregava a mensagem, mesmo sabendo  que morreriam ao amanhecer.
 
Por que não chegava ele às portas de Roma e chamava um daqueles milhares de mendigos morrendo já de fome ou de lepra, e lhes fazia uma tentadora proposta – Vai lá no palácio e entrega essa carta pessoalmente ao grande César. Ele vai lhe dar de recompensa um quilo de sal! E se mandava, que se todos os caminhos levavam a Roma, também dela saíam. Teor da mensagem? Cleópatra flagrada nos braços de Marco Antônio.
 
Imagina o mensageiro chinês correndo toda a extensão da grande muralha para informar ao imperador que os mongóis haviam invadido a China. A cada posto avançado da muralha ele parava para o revesamento com o sentinela de plantão – Passo a grande responsabilidade dessa mensagem de alta prioridade às vossas  mãos… Nada disto, responderia o sentinela, Você é o mensageiro, vai em frente…  Não poderia ele  simplesmente queimar  a mensagem e escapar vivo da ira imperial e da invasão?
 
Tempos bárbaros, aqueles, mas infelizmente esse péssimo hábito não está de todo extinto nesses tempos de Facebook e selfies. Matar o portador da má notícia é ainda muito praticado na sociedade moderna. Melhor me explico, matar simbolicamente, que a lei é dura em outros países. Mas o mensageiro, às vezes também chamado alcoviteiro, corre o risco de ficar mal-visto, sofrer revanches vingativas, perder o crédito ou cair no ostracismo.
 
Outro dia mesmo soube que a Nena contou pra Nanda que o namorado a estava traindo com a Nilde. Pensa que a Nena foi premiada com um quilo de sal? Muito pelo contrário, Nanda  ficou de mal com Nena e a eliminou de seu círculo social. E mesmo tendo difamado a Nilde nas redes sociais, continuou de bem com o namorado. Uma exceção? Absolutamente. Tais situações acontecem frequentemente, com infinitas variações mas com resultados parecidos.
 
Principalmente na selva financeira. Carla avisa ao chefe que o carrão dele estacionado na vaga exclusiva da garagem do prédio está com um enorme rombo na porta. “O quê? Acabei de tirar da agência… Viu quem foi?” grita ele, possesso. “Infelizmente, não…”, gagueja Carla, percebendo a enrascada em que se meteu, “Vi o estrago quando estacionei ao lado…” Por sorte, Carla não foi sumariamente demitida, mas o aumento que estava  esperando não chegou nunca!
 
Toda verdade tem duas faces, ou muitas, e às vezes não contar pode trazer mais problemas do que contar.  Só que ninguém tem bola de cristal pra saber de antemão o que vai ser pior.  Pedro chama o contador e pergunta porque não foi informado que a empresa estava no vermelho. Se você fosse o contador, qual  resposta escolheria: a) Sou daltônico; b) a empresa faliu e vou ser demitido do mesmo jeito; c) se contasse, ia dizer que estou roubando.

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