Domingo, 28 Abril 2024

Mercado e consumo

Compreendendo que a mola propulsora do sistema capitalista é o consumo, vamos abrir uma reflexão quanto a forma e os motivos para consumir, que tantas vezes afastam a razão, trazendo consequências dolorosas e de longo prazo.

Para analisar a questão, primeiramente quero lembrar das palavras de Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai, dando conta de que o dinheiro que se ganha trabalhando tem um significado maior, seu custo representa o tempo de vida que a pessoa gastou para ganhá-lo. Partindo desta visão objetiva, já é possível estabelecer, para o dinheiro ganho, um valor superior; uma relação de compensação direta pela vida gasta no labor.

É realmente admirável quando o dinheiro ganho atende um desejo ou uma necessidade de consumo de produto ou serviço. O planejamento para a aquisição de um bem, dos mais simples aos mais complexos e caros, é sempre acompanhado de uma ansiedade, que aumenta o prazer do momento de sua realização.

Por outro lado, vivemos no sistema capitalista em que o poder sai das mãos das pessoas e se materializa no dinheiro e nas coisas com ele adquiridas. Somado a isso, existe uma sugestão insistente, que povoando o imaginário humano comum, estabelece lugares quase obrigatórios de consumo, para manutenção do aparecer social. Conserta-se cada vez menos as coisas, renova-se equipamentos ainda em uso, troca-se de carro após dois anos de uso, troca-se o piso da cozinha por que se cansou do ali existente, desde cedo se coleciona brinquedos, depois sapatos, joias e muitas outras coisas.

Além da desconsideração do valor real do dinheiro na aquisição de supérfluos, tem ainda os hábitos de consumo cultivados na sociedade como: a sofisticação capital da alimentação, da moradia, das vestimentas, do lazer e também dos prazeres. Em determinados produtos, a diferença de valor é tão grande que espanta, como uma garrafa de vinho de milhares de dólares ou um quilo de café por milhares de reais.

Ainda vale ressaltar o papel do apelo ao consumo realizado pela sociedade, mesclando sentimentos e emoções com presentes em datas comemorativas às crianças, aos namorados, pais, mães, Natal, etc., ou ainda as grandes liquidações, feirões, Black Friday, etc. que incentivam o consumo oferecendo descontos.

Se até aqui os argumentos foram voltados para a valorização do dinheiro, principalmente levando em consideração a forma como ele foi ganho, o que diremos do endividamento ou (super) endividamento? Pessoas que passaram por algum imprevisto ou que compram além da possibilidade de pagar e se enrolam, são negativadas e ficam excluídas do mercado?

Bem, estamos próximos às datas mais emblemáticas para o consumo, sejam a Black Friday e o Natal. Por isso vale ressaltar a consciência do valor do dinheiro e a necessidade de planejamento para evitar se tornar vítima da sugestão publicitária de incentivo ao consumo, trazendo a razão e o bom senso para as compras como sistema de proteção.


Everaldo Barreto é professor de Filosofia

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