Morena de Angola
Ana de Sousa foi rainha do Reino de Ndongo, no oeste africano, hoje Angola. O rei Ngola Kilajua tinha um filho único, que deveria reinar depois dele, e três filhas que foram educadas para se casarem com reis dos reinos vizinhos. Para isso nasciam as filhas nos palácios reais – estreitar laços diplomáticos e criar alianças. Uma das filhas era a Princesa Nzinga, que se tornou Ana de Souza.
A primeira referência a Nzinga na história do país foi em 1622, quando participou da comitiva de seu irmão numa conferência de paz com o governador de Luanda, a capital e maior cidade de Angola, administrada por João Correia de Souza. Corre a lenda que, para humilhar Nzinga, João Correia não lhe ofereceu uma cadeira, forçando-a a se sentar no chão. Nzinga contornou o incidente sentando-se nas costas de uma de suas aias durante toda a conferência.
Como resultado dessa conferência, angolanos e portugueses assinaram um tratado de paz que João Correia não se deu ao cuidado de cumprir, e continuou com as práticas colonialistas habituais dos conquistadores, explorando a África em busca de ouro e capturando escravos para vender nas Américas. Para enfraquecer a influência do rei Kilajua, João Correia aliou-se a outro país da região, a Nação Imbangala, ancestral inimiga de Ndongo, criando uma guerra interna entre os dois países africanos.
Com a morte de Kilajua, o filho o substituiu, mas faleceu pouco depois. Pela tradição do país, as mulheres estavam proibidas de reinar, e Nzinga se tornou regente do sobrinho Kiza, ainda muito jovem para tais responsabilidades. Numa tacada política para tomar o trono, Nzinga fez aliança com os portugueses e foi batizada como Ana de Souza, para agradar a João Correia de Souza. Ganhou o título de Dona, e os portugueses passaram a negociar diretamente com ela.
Tudo correu bem até a chegada de Fernão de Souza ao país. Nzinga nunca foi submissa aos portugueses, e logo se desentendeu com o novo governador. Acabou sendo expulsa do país, mas longe de se deixar derrotar, passou a referir a si mesma como Rainha de Andongo, fugiu para o leste e mesmo no exílio continuou a combater os portugueses. Conseguiu reconquistar sua ilha, mas foi mais uma vez banida pelos portugueses, que capturaram sua irmã.
Nzinga fez negociações com os holandeses, criando a primeira aliança euro-africana contra outra nação europeia. Seu exército derrotou os portugueses em uma batalha em que sua outra irmã foi também capturada. A aliança com os holandeses a ajudou a derrotar os portugueses. Brilhante estrategista, política e administradora, Nzinga conseguiu manter os portugueses longe de suas terras, criando e desfazendo alianças, avançando quando possível e recuando quando necessário.
Em um discurso a seus súditos, Nzinga declarou que a aliança de seu exército com seus inimigos figadais, a Nação Imbangala, era um mal necessário na guerra contra os portugueses, mas pouco depois assinou um tratado de paz com os portugueses. Durante 40 anos Nzinga lutou contra a expansão colonial portuguesa e o mercado de escravos em seu país. Morreu aos 80 anos, e sua morte acelerou a ocupação portuguesa em Angola, incrementando o nefando comércio de escravos.
Veja mais notícias sobre Colunas.
Comentários: