Domingo, 28 Abril 2024

Mortos, feridos e ressuscitados

A sessão histórica da Assembleia, que começou no dia 2 de junho, com a ocupação das dependências do prédio do Legislativo por longos 12 dias, teve seu desfecho na sessão desta segunda-feira (15), que também passa a ser histórica. 
 
Depois de duas semanas de manobras do Palácio Anchieta, finalmente o projeto de decreto legislativo, que propunha o fim da cobrança do pedágio da Terceira Ponte, entrou na pauta de votação da Assembleia. Na inesquecível sessão do dia 2, o deputado Gildevan Fernandes (PV) não se intimidou com os gritos que ecoavam das galerias lotadas e pediu vista do projeto para obstruir a votação. 
 
A manobra articulada pelo governo revoltou os manifestantes que acompanhavam a sessão, e a Assembleia acabou sendo ocupada. Nesse período de ocupação é até difícil para calcular quantas das mais de 280 horas foram dedicadas a discussões, debates e tentativas de acordos. A negociação para a desocupação do prédio, por exemplo, durou mais de 12 horas. 
 
O desfecho de todo esse processo se deu hoje (15), quando o projeto entrou em votação. O governo, no entanto, escolado com a onda de protestos que toma as ruas da Grande Vitória desde o dia 17 de junho – data da primeira grande manifestação -, articulou uma verdadeira estratégia de guerra dentro e fora da Assembleia. Todo esse processo deixou um rastro de destruição por onde passou. O balanço final contabilizou mortos, feridos e ressuscitados. 
 
Dentro da Casa, os “soldados governistas” se mostravam obedientes aos comandos do Executivo, que conseguiu arregimentar 16 dos 27 deputados que votaram a favor da inconstitucionalidade do projeto que propunha o fim da cobrança do pedágio. No lado de fora, a polícia agia com violência para impedir que os manifestantes acompanhassem a sessão. Usando uma força desproporcional, o governo, por meio da polícia, ratificou que sua interlocução com os movimentos é na base força. 
 
No plenário, 11 “combatentes” resistiam à pressão do governo e mantinham a posição de apoio ao projeto de Euclério. Houve apenas uma baixa. A deputada Janete de Sá (PMN), que se envolveu de cabeça nas negociações com os manifestantes – até rodinha com os ocupantes ela fez – assumiu o papel de agente duplo. A impressão que deve ter ficado para os manifestantes é que Janete traiu a confiança do grupo. Ficou parecendo que ela esteve nas reuniões com a função de espiar e levar informações ao “inimigo”. Essa entra na lista dos “mortos” – aqueles que devem ser derrotados nas urnas em 2014. 
 
Para não ir só para o umbral, Janete poderá contar, com toda a certeza, com a companhia de Gildevan, que foi quem aceitou fazer o jogo do governo e obstruir a matéria. O deputado do PV é outro que pode dar adeus à reeleição de 2014. Afinal, a memória do povo já não é tão curta.
 
Entre os feridos estão aqueles que tentaram não chamar a atenção da população, mas acabaram se curvando ao governo. Os deputados cujos redutos eleitorais estão no interior, têm até alguma chance nas eleições de 2014. Já os da Grande Vitória, que estão imbricados com o eleitorado que atravessa todos os dias a ponte, terão muita dificuldade para convencer o eleitor que estavam votando com responsabilidade e não com populismo. 
 
No grupo dos ressuscitados, destaque para a deputada Solange Lube (PMDB). Com um mandato apagado até agora, a peemedebista se saiu muito bem nas negociações com os manifestantes. Foi mais longe, mesmo tendo uma posição claramente governista, mostrou personalidade e coragem para bancar o acordo. 
 
Outro ressuscitado é o próprio autor do projeto. Euclério, que não conseguiu se reeleger em 2010, está aproveitando como ninguém a chance que teve como suplente para retornar à Assembleia. 
 
Os outros nove deputados que votaram contra o parecer de Gildevan dão um passo importante em direção à reeleição. 
 
Fora os deputados, o governador Renato Casagrande, principal articulador da manobra, deixou claro que o Executivo continua interferindo no Legislativo, como nos oitos anos do governo Hartung. A diferença é que os tempos são outros. 
 
O socialista sai visivelmente desgastado da onda de protestos iniciada há cerca de um mês. O período é relativamente curto, mas o estrago é devastador para as pretensões de reeleição do governador, que pode não ter fôlego para sobreviver até 2014.

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