Domingo, 05 Mai 2024

Mudança de conceito

No início do movimento combativo, na década de 1970 e 1980, a coisa mais difícil do mundo era uma eleição dentro de sindicato com chapa única. Construir um consenso naquela época exigia muita qualidade de trabalho, eficiência. E sempre um ou outro que não concordava. Mas, mesmo com toda a pressão do capital, a participação era pujante.



Hoje falar em chapa única significa outra coisa. Assim como vem acontecendo no campo da política institucional, a chapa única passou a significar uma unidade por interesses. A política de coalizão, que acontece em nível nacional, partidária, é conseguida por meio de muita concessão. O PT abriu mão de sua plataforma ideológica para se manter no poder. Tentou cutucar algumas questões, mas a ampla base aliada amarra.



No Estado, não cabe nem falar em coalizão, a política de unanimidade anulou qualquer possibilidade de oposição. Sem espaço para a discussão dos principais temas relevantes à sociedade, até as figuras mais sérias da classe política acabaram emboladas nesse balaio de gatos, que cabe do PT ao DEM.



No campo sindical, essa unanimidade também se construiu no gabinete das direções. Deixou o pátio da fábrica e se transformou em um movimento de conchavo. A unidade não se dá pelo consenso e pela aprovação da categoria ao trabalho que vem apresentado por quem está no poder, mas por manobras.



Ao chegar ao poder, a maioria cria mecanismos de aumentando mandato à frente do sindicato, para dar tempo de articular outras artimanhas que vão se transformar depois em formas para garantir a perpetuação no poder.  Outro mecanismo é acionado, a mudança do estatuto, garantindo poderes totais para o presidente, anulando a chance de qualquer outro concorrente ameaçar o poder estabelecido.



Para finalizar, a manobra conta com o principal adversário do movimento sindical. Em vez de ir à mesa de negociação para discutir manutenção de direitos e novas conquistas, negocia-se a cabeça dos dissidentes, concorrentes em potencial.



Enquanto isso, o trabalhador, que nesse processo foi deixado de lado, vê seu poder de representatividade cada vez mais enfraquecido e aí abandona o sindicato.



Quem perde com isso é a sociedade. Mas é  preciso lembrar que nenhum poder dura para sempre. Quando deixa de ser interessante para o capital, o verdadeiro vencedor dessa peleja, quem se achava poderoso, é substituído por uma proposta mais “inovadora”.

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