Segunda, 29 Abril 2024

Na boca do povo

As mobilizações populares que ganharam as ruas do Estado há um mês reúnem as principais reivindicações ambientais levantadas pelos movimentos sociais, até hoje sem respostas do poder público. Claramente, uma sinalização de que as omissões do governo e da Assembleia Legislativa já esgotaram a paciência dos capixabas. O ideal e obrigatório seria se essas recebessem a devida atenção de quem deve responder por elas, mas está difícil – quase impossível. Meio ambiente por aqui é prioridade zero. 
 
Expresso em vozes, cartazes, manifestos e notas públicas, o descontentamento é generalizado. Mas um ponto, em especial, é comum a todos os movimentos: a cobrança pela abertura da CPI do Pó Preto, que não saiu devido à manobra consolidada pelo governo Renato Casagrande e os deputados estaduais. E houve de tudo um pouco: gente que assinou e depois recuou; a bancada do PT jogando no lixo bandeiras partidárias sem apoiar a investigação e, claro, o lobby da Vale – esse não poderia faltar.
 
O festival de articulações ficou gravado na memória da população, com todos os nomes e sobrenomes. Muitos deputados apostam todas as fichas no recesso, confiantes no tal esquecimento, mas não é o que indica o termômetro das redes sociais. Até a disputa do ano que vem, listas e listas prometem circular. 
 
Iniciativa do deputado estadual Gilsinho Lopes (PR), a CPI sanaria a principal angústia dos moradores da Grande Vitória, hoje e sempre: a poluição do ar. A cobrança por rigor do governo e da Assembleia no trato ao problema, já expressa inúmeras vezes, virou um manifesto assinado pelas entidades do Bloco Ambiental. Há argumentos de sobra.
 
Outro ponto importante levantado é a postura do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) no licenciamento dos grandes projetos poluidores do Estado. Irregularidades, omissões e favorecimentos compõem o cenário. 
 
Também há queixas em relação ao descaso com que é tratada a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Seama), que só no atual governo já passou pelas mãos de três diferentes dirigentes; ao sucateamento do Iema, que também troca de comando igual se troca de roupa, e a inoperância do Conselho Estadual de Meio Ambiente (Consema).
 
Além disso, os projetos portuários previstos para o Estado, em que licenciamentos têm sido concedidos sem qualquer discussão com a sociedade. Nem mesmo o Conselho Estadual de Cultura (CEC), que deveria avaliar os empreendimentos em áreas abrangidas pela Mata Atlântica, é consultado. A comissão dos portos aprovada pelo menos conselho, então, nem pensar. O governo não cria de jeito nenhum. Os interesses são muitos, ninguém pode atrapalhar.
 
Embora a classe política capixaba já esteja careca de saber dos anseios da população, todas as demandas que surgiram agora ainda com mais força estão, tim-tim por tim-tim, nas mãos de Casagrande, Theodorico Ferraço (DEM), Cláudio Vereza (PT), etc, etc e etc. Não é por falta de aviso - aliás, repetidos avisos.
 
 


Manaira Medeiros é mestre em Políticas Públicas e Desenvolvimento Local e especialista em Gestão e Educação Ambiental
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