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Na sua geração ou na minha?

Como as mudanças são mais rápidas que o dicionário, existem situações ainda sem título

No tempo do chapéu de três pontas, a raça humana se dividia em três gerações – se é mais jovem que eu não é da minha geração, se é mais velho que eu não é da minha geração. Simples, e todos se entendiam. As mudanças eram determinadas por fatos históricos relevantes: a geração que passou pela grande guerra, a geração que amava os Beatles, e entre nós, a geração que não votou para presidente. Nos States teve a geração coca-cola, quando todo mundo só bebia coca-cola, e teve a geração McDonald’s, quando todos, na juventude, trabalharam em um McDonald’s. Sou da geração que pedia a bênção ao padre, se passasse por ele.

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Cada um definia a qual geração pertencia. Minha geração não andava com essas saias curtas, diz a mulher de pernas tortas. O namoro também definia as gerações – teve a geração que namorava na sala, com uma tia tricotando na outra poltrona. Depois a geração que namorava no portão, com os vizinhos vigiando por trás das cortinas. Teve a geração que namorava em barzinhos, e chegamos à geração que não namora – ficam. Como as mudanças são mais rápidas que o dicionário, existem várias situações ainda sem título – moram juntos e pretendem se casar, moram juntos mas são muito jovens para pensar em casamento, dormem na casa dos pais mas não moram juntos,…

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Hoje em dia a definição das gerações se sofisticou. Alô milênios, vocês já estão ultrapassados, quem manda agora é a Geração Z. Uma das características mais marcantes dessa nova leva é que dominam as pesquisas online por informações. Então teríamos a geração dos dicionários, superada pela geração das enciclopédias, e finalmente a GG – Geração Google. Devíamos ter também a Gen Facebook, que já está usando bengala, e a Gen Whatsapp, seriamente ameaçada pela Gen Tictoc. Temos ainda a geração que só compra na loja, que está sendo substituída pela geração das compras online. Na porta da vizinha da direita, todos os dias tem pelo menos um pacote entregue pela Amazon. Na porta da vizinha da esquerda, os pacotes chegam pelo correio. Massacrada entre as duas, só chego em casa com pacotes da Ross quando elas estão no trabalho.

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O tipo de trabalho também é um fator primordial para separar as camadas sociais que chamamos de gerações. Antes do advento dos computadores, quem trabalhava em casa era a senhora vossa mãe, que nas declarações do imposto de renda, era pejorativamente definida como “do-lar”. Profissão não remunerada e não reconhecida, do tipo: se você limpa ninguém nota; se você não limpa todo mundo sai falando mal. Hoje temos os que trabalham fora, os que trabalham dentro, e os de jornada dupla, tanto em casa como na empresa. A madame: Minha geração não sobrevivia sem uma auxiliar doméstica. A moderninha: os da minha geração não aceitam uma estranha cuidando dos nossos filhos. A do meio: Minha geração não está aguentando pagar uma faxineira.

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Em 2018, os especialistas decidiram que era hora da mudança – adeus Millennials, benvinda Gen Z – Os que nasceram entre 1981 e 1996 passam o bastão para a turma nascida a partir de 1997 – mais grudada na Internet, nunca ouviram falar em Plínio, o velho ou o moço, acham que Homero escreveu a Declaração dos Direitos Humanos, e que Euclídes é um programa de computador. Tal como aconteceu com o Calendário Inca, em um futuro longínquo, os estudiosos vão queimar pestanas para entender o que aconteceu nesse longínquo passado – Por que foram classificados com a letra Z? Achavam que o mundo ia acabar?

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