Quando o então secretário de Estado de Justiça Ângelo Roncalli arrumou um jeitinho “honroso” de sair do cargo, por conta do escândalo do Instituto de Atendimento Socioeducativo do Estado (Iases), ele já sabia que o cerco iria se fechar cada vez mais, à medida que as investigações avançassem. Manter o discurso de que não sabia de absolutamente nada que ocorria debaixo do seu próprio nariz, e com pessoas de sua confiança, era uma missão realmente difícil, para não dizer impossível. E não deu outra.
A decisão liminar da Justiça que determinou o bloqueio dos bens de 18 pessoas – inclusive o ex-secretário – e duas empresas denunciadas na Operação Pixote, no valor de R$ 30,6 milhões, confirma os fortes indícios de que os atos de corrupção não passaram despercebidos por Roncalli.
Entre as considerações do juiz da 3ª Vara dos Feitos da Fazenda Pública Estadual, Manoel Cruz Doval, em decisão liminar, constam “indícios retumbantes” de irregularidades na contratação do colombiano Gerardo Mondragón, o todo-poderoso da Associação Capixaba de Desenvolvimento e Inclusão Social (Acadis), para dar consultoria ao instituto. Fraudes essas que foram ratificadas pelo então secretário de Justiça.
Também cai na conta de Roncalli o entendimento da existência de fortes elementos de direcionamento na contratação da Acadis pelo Iases, exatamente para beneficiar o colombiano.
Igualmente, o episódio citado de favorecimento à ex-diretora do Iases Silvana Gallina no presídio onde está desde a deflagração da operação policial. Ela teve acesso a regalias, incluindo um celular, entregue pela servidora da pasta de Roncalli, Quésia da Cunha Oliveira. O que teria sido feito em atendimento a uma ordem do então secretário – ele queria e precisava garantir “tratamento VIP” a Gallina, para não correr o risco dela se sentir desamparada, e assim colocar a boca no trombone.
A primeira reação da Justiça após a denúncia do Ministério Público do Estado (MPES), como podemos ver, já é uma prévia um tanto desanimadora para aqueles que ainda correm por fora do processo, embora também precisem ser investigados. Casos do deputado estadual Da Vitória (PDT), que fez lobby para Mondragón e recebeu em troca contratos de encher aos olhos com a Acadis, e ainda do juiz Alexandre Farina, que apareceu no mesmo expediente, emplacando contratos para a empresa de segurança Garra, do irmão dele, Cláudio Farina Lopes.
Outro que precisa prestar explicações é o ex-governador Paulo Hartung (PMDB). Afinal, foi em suas gestões quando tudo começou, e na pasta entregue a um de seus principais soldados. Hartung e Roncalli sempre mantiveram estreitas ligações, tanto que o ex-secretário passou ileso de todas as denúncias e repercussões negativas sobre as masmorras. E, de quebra, ainda se garantiu no atual governo, dentro do pacote imposto pelo ex-governador. Se não fosse a Operação Pixote, estaria firme e forte no comando do sistema prisional, sem sofrer qualquer arranhão.
A primeira leva já segue na rédea apertada e assim deve ser até a conclusão do processo. Pelo menos é o mínimo que se espera. Mas ainda falta o resto, principalmente, o topo da pirâmide.