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No Kings – final

Fim do shutdown

Na Califórnia, houve a aprovação para a redistribuição de distritos eleitorais que aumentam as chances dos democratas na disputa para o controle da Câmara dos Representantes em 2026. Em Nova Iorque, a eleição do progressista Zohran Mamdami veio no curso de promessas como a redução da burocracia para a construção de moradias populares. Este resultado foi um fracasso tanto para Cuomo como para Trump. No entanto, se Mamdami fracassar, as chances de Trump, em 2028, retornam, e servirá de um alerta para os progressistas nas primárias presidenciais.

O governador Gavin Newsom, da Califórnia, ganha destaque no cenário nacional, em que fica claro para os eleitores democratas que ele é um nome apto para enfrentar Trump, pois se encaixa numa tradição que vem de Jimmy Carter e também passa por Barack Obama, candidatos jovens que realizaram campanhas que iam contra o establishment, tanto do Partido Republicano como do próprio Partido Democrata.

Newsom ainda possui uma postura centrista e inclusiva, e ganhou destaque na briga que teve com o recém-eleito Trump durante os incêndios florestais de Los Angeles, incluindo o envio da Guarda Nacional e dos fuzileiros navais da ativa para a cidade no verão. Daí que surgiu a luta pelo redistritamento no Estado da Califórnia, que credenciou o governador como um dos primeiros líderes nas primárias democratas de 2028. Além disso, a zombaria de Newsom em relação a Trump e seus apoiadores on-line o colocou como uma referência na ampla coalizão anti-Trump.

Essa medida de Newsom pela redistribuição distrital na Califórnia vem como resposta ao redesenho do mapa eleitoral do Texas, feito a pedido de Trump, na sua busca de manter uma maioria republicana, ainda que estreita, na Câmara dos Representantes em 2026, em que o Partido Republicano ganhou cinco distritos adicionais com maior probabilidade de vitória. Nessas disputas se inclui, ainda, a perspectiva dos democratas ampliarem a estreita maioria na Câmara dos Delegados da Virgínia, abrindo caminho para que o Partido Democrata aprove uma emenda constitucional que autorize o redesenho distrital deste Estado.

Por fim, no Maine, os eleitores rejeitaram uma proposta que exigiria a apresentação de documento de identidade com foto nas urnas, dentre outras medidas restritivas, lembrando que o Estado é crucial para o controle do Senado em 2026. E este acaba de aprovar o fim do shutdown, uma paralisação dos serviços do governo federal que tinha provocado distúrbios como a interrupção do pagamento de salários, e que logo após também foi aprovado seu fim pela Câmara dos Representantes e feita a sanção por Trump de um projeto de lei orçamentária que encerra oficialmente o shutdown, o mais longo da História dos Estados Unidos, que durou 43 dias.

Esse último shutdown ocorreu devido a um impasse entre republicanos e democratas no Senado, em que os subsídios dos planos de saúde da Lei de Cuidados Acessíveis (Affordable Care Act), que fizeram com que o número de inscritos no ACA dobrasse para 24 milhões desde 2021, estavam no centro da paralisação, ao passo que Trump pressionava pela substituição dos subsídios por pagamentos diretos aos indivíduos, e então com os republicanos só aceitando votar o tema depois que o governo fosse reaberto.

Trump, na sua rede Truth Social, já havia criticado os subsídios como lucro inesperado para as companhias de seguro saúde e um desastre para o povo americano, exigindo que os recursos fossem enviados diretamente para que as pessoas comprassem cobertura por conta própria. Finalmente, os democratas cederam à vontade da maioria republicana pelo fim do shutdown com a condição de votação do projeto pelos subsídios.

A partir da aprovação desta resolução foram revertidas, pelo menos em parte, as demissões em massa de funcionários federais realizadas pelo governo Trump durante o shutdown, e foi garantido o financiamento dos benefícios do Programa de Assistência Nutricional Suplementar (SNAP). Por sua vez, os norte-americanos que buscam os planos de saúde do ACA, o Obamacare, para 2026, enfrentam a duplicação dos prêmios mensais, pois estes foram subsídios criados durante a pandemia e expiram no fim deste ano.

Se a proposta de Trump prevalecesse, por conseguinte, se veria um enfraquecimento do ACA e o caminho livre para que as seguradoras de saúde negassem cobertura a pessoas com condições pré-existentes, tendo poder para cancelar apólices. Contudo, quem venceu a negociação toda foram os republicanos, uma vez que os democratas, mesmo tendo vencido as eleições em Nova Jersey, Virgínia e Nova Iorque, tiveram que capitular na questão do shutdown para obter a extensão dos subsídios para o seguro saúde.

Mesmo com a negação sistemática de uma crise econômica nos Estados Unidos por parte de Donald Trump e dos republicanos, pressões internas fizeram com que o governo norte-americano anunciasse uma redução do tarifaço em 10%, o que atinge apenas as tarifas recíprocas, e no caso de produtos do Brasil, estes ainda ficavam diante de uma tarifa de 40%, e que foi confirmada pelo Departamento do Tesouro e o Escritório do Representante Comercial (USTR) após consulta feita pelo governo Lula.

No entanto, o anúncio da anulação do tarifaço de 40% para produtos agrícolas, que os Estados Unidos não produz e o consumidor norte-americano costuma comprar, como a carne e o café brasileiros, não resolve o problema criado em torno dessa política comercial e diplomática radical, pois o Magnitsky, a Seção 301 do USTR que ainda está em trâmite, o tarifaço sobre manufaturados e pescados, portanto, ainda colocam a questão do esforço diplomático brasileiro como necessário, uma vez que seu sucesso relativo, pois Lula foi citado por Trump ao explicar e decisão.

Contudo, assuntos internos como pressão inflacionária e demanda do próprio mercado consumidor norte-americano também entraram no cálculo, não desfazendo o caráter individualista da política norte-americana em sua forma geral, pois não existe mágica diplomática, isto é, admiração súbita e empatia instantânea. Mesmo assim, posições anódinas e de lacaios explícitos como o Bananinha e o neto do “general rola bosta” estão completamente excluídos da discussão.

Tal medida ainda limítrofe também confirma a história da “química” como um sonho numa noite de verão e ingenuidade histórica, pois a diplomacia norte-americana sempre foi autocentrada, e Trump, para agravar o cenário de inocência e pastiche, leva essa característica dos Estados Unidos ao paroxismo, vide a sua indiferença olímpica diante das outras nações e o negacionismo climático que o trumpismo também garante com o lobby das petroleiras. Confirmando seu compromisso com o próprio umbigo ao estar ausente da reunião do G20. Apesar disso, o grupo aprovou por aclamação uma declaração contra as mudanças climáticas e a favor do multilateralismo.

No entanto, a crise de popularidade de Trump, evidente desde os protestos do No Kings, se dá agora em meio à questão venezuelana, com o poltrão do Maduro cantando “Imagine” de John Lennon, já pela bola sete e morrendo de medo de ver o fim de seu regime autocrático socialista, herdado de Hugo Chávez, o que denota, mais uma vez, um caudilho de vaudeville, de fancaria, um néscio fanfarrão, cujo bolivarianismo faria Simón Bolívar cortar a cabeça deste seu êmulo, se pudesse levantar da tumba.

E temos, como ponto crucial para a sustentação ou queda do governo Trump, para além do No Kings ou qualquer coisa que for, o caso Epstein explodindo na cara dos poderosos de diversos setores da cleptocracia norte-americana. Este escândalo sexual de pedofilia inclui o próprio Donald Trump que, diante da surra que levou dos democratas, com a abertura dos arquivos do caso sendo aprovada pelo Congresso dos Estados Unidos, dobra a aposta e, depois de se colocar contra a abertura dos arquivos, agora se diz a favor, tentando antever o envolvimento de democratas, também, no caso de pedofilia generalizada que envolve o nome de Epstein e suas orgias.

(obs: a prisão de Bolsonaro entrará na próxima coluna).

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
Blog: poesiaeconhecimento.blogspot.com

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