Oposição contra o avanço autocrático do trumpismo
O balão de ensaio autocrático do trumpismo recebe críticas da parte norte-americana que defende valores democráticos e culturais, de um governo que se confronta com o Congresso e o Judiciário, e tenta manietar a oposição política, através de manobras, e a concentração de poder no Executivo, ocupado por Donald Trump.
Essa massa crítica dos Estados Unidos, que existe, está em cidades grandes, e consideram estas hostes como Wasp, red necks e jerks de máfia dos tigres, entre criadores que morrem decapitados por orangotangos de estimação, como num conto de Poe e quetais, como as figuras mal acabadas de um estereótipo de norte-americano alienado e medíocre, pessoas completamente idiotas. Habitantes de Chicago e Nova Iorque, por exemplo, riem deles.
Essas críticas à concentração de poder trumpista, que se trata de um viés sistemático para abrir caminho para uma autocracia não proclamada, hipócrita, à moda do mais manjado pragmatismo norte-americano, reúnem a intelectualidade de Harvard, podada pelos arbítrios do trumpismo, e todo o pensamento crítico e que se preza, e que entende o anti-americanismo como algo causado por essa história atávica de uma nação que tem a fantasia da excepcionalidade, e que se funda nessa insciência jerk do “american idiot”.
Justamente, esse delírio hegemônico, acaba sendo o crivo do senso médio, comum, na sua versão de pauperismo acadêmico, intelectual, de pouca sutileza reflexiva, e que padece da falta de práticas sociais esclarecidas e de ações com relevância cultural, e que acaba sendo a imagem que prevalece no mundo, pois, naturalmente, quem já viu os rompantes do Uncle Sam, com seu Big Stick, a impressão é acerba toda vida.
Os protestos, então, resultam como uma reação a esse trumpismo que traz em seu bojo, redivivo, o cacoete histórico do Destino Manifesto, em que o eleitor extremista se vira à Star Spangled Banner, e tem na bandeira o seu fetiche maior, diante de uma iminente hegemonia chinesa, de uma eficiência diplomática fundada na política comercial, construindo pontes, com e sem trocadilho, enquanto Uncle Sam continua com seus tiques de “Líder da Sala” e “Janjão do Ginásio”, cuja imagem icônica é o próprio Donald Trump, um bully convicto.
Os republicanos mais conservadores e os reacionários delirantes reagem e classificam a suposta balbúrdia contra Trump de uma massa de antifas, marxistas, grupos de pessoas anticapitalistas, enquanto o governo e os aliados republicanos no Congresso culpam os democratas pelo shutdown que paralisou a máquina pública norte-americana.
Tal efeito, contudo, seria uma defesa do corpo político de oposição contra o avanço autocrático do trumpismo, tentando preservar a separação dos poderes e do próprio regime democrático. Pois a democracia norte-americana é a mais longeva da História Mundial, de mais de dois séculos, de uma Constituição perene e enxuta, de fácil compreensão e aplicação, apesar de excrescências dos tempos da defesa paramilitar dos condados, que é o tal voto de delegados e superdelegados, um esqueleto tão anacrônico quanto os cartões de voto, um lapso que faz o voto popular ser um ensaio inútil e patético.
Os protestos do No KIngs têm o apoio de figuras como Bernie Sanders, senador independente, e do líder democrata no Senado, Chuck Schumer. Sanders, por exemplo, afirmou o seguinte: “É um ato de amor à América, milhões de pessoas vão às ruas para defender a Constituição e a liberdade americana, e para dizer a Trump que este país não será transformado em uma autocracia”.
A virada democrata também representa uma postura despertada, animada, depois de uma ressaca diante do fortalecimento de Trump, que dava soquinhos no ar, diante de uma plateia idiotizada e hipnotizada, com catalisadores como o atentado falhado contra o então candidato a presidente norte-americano, no fatídico comício do tiro na orelha, depois do afastamento de Joe Biden e de Kamala Harris despencar com tiques woke dos fetichistas do bem, cujos números de circo ridículos em nada e nunca contribuíram para as políticas públicas concretas para minorias.
A virada democrata começou nos protestos de abril contra o presidente Trump e o empresário Elon Musk, e culminaram nesta apoteose do No Kings, que é, propriamente, o primeiro momento em que o trumpismo, em seu novo governo, sente estremecer as bases de sua plataforma política, tanto interna como globalmente, e isso coloca Trump numa nova posição de estar sob ataque dentro do próprio Estados Unidos.
Enquanto isso, Trump faz uma mistura esquizofrênica, à moda da tática da alt-right de Steve Bannon, que criava essas confusões adrede, em que, ao mesmo tempo em que o presidente norte-americano se arroga o papel de uma espécie anódina de arauto da paz mundial, candidato ao Nobel, dá porretadas no mar, perto da Venezuela, com bombardeios de embarcações.
Trump exerce uma pressão psicológica para derrubar o poltrão do Maduro, aquele caudilho de fancaria, sim, este mesmo, o que lambe as botas do falecido Chaves, dentro de uma caverna, viajando de ácido, e conversando com uma pomba, e que agora se caga de medo, e toma uma saraivada da oposição, dentro da própria Venezuela.
Os democratas demonstram culhões e espinha dorsal, finalmente fissurando a narrativa republicana recente, coalhada e azeda, desde o caldo culturalmente insosso, que foi a invasão do Capitólio, no 6 de janeiro de 2021, uma conspirata brancaleone, opereta farsesca, um vaudeville de pândegos involuntários, repleto de personagens cujas existências são intelectualmente abúlicas, um drama pobre do viking e cia, e que foi o balão de ensaio para o que viria a ser este novo governo Trump.
Portanto, aquele circo bastardo anunciou o que aconteceria na volta de Trump, com este ardil e anelo autocrático, à luz do dia, e não o canto do cisne de um Trump avariado, como muitos tinham imaginado. E tudo graças ao tônus apático e decadente de Joe Biden, que fez este desfavor de abrir o palanque, novamente, para os trumpistas.
Primeiro, para os doidos do Q-Anon, junto às manobras táticas da alt-right de Bannon, e as teorias conspiratórias que ganharam corpo na internet e, consequentemente, também no cotidiano norte-americano, e em grande parte do mundo, e depois, finalmente, a um Trump, cuja militância, agora, segue uma linha imaginária traçada na sua própria cabeça, a diplomacia de seu ego.
(continua)
Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
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