Segunda, 06 Mai 2024

Nova fase

O protesto do último dia 19 foi marcado por uma forte repressão da polícia aos manifestantes. Os arredores do Palácio Anchieta, alvo do ato, virou uma verdadeira praça de guerra. A estratégia da polícia foi dar campo aos manifestantes para depois reprimi-los com violência.
 
Quem participou ou acompanhou os protestos daquela sexta-feira percebeu claramente que a polícia armou uma espécie de arapuca: primeiro atraiu e depois fez um ataque covarde aos manifestantes. A estratégia era dar corda para os ataques evoluírem para depois reprimir os manifestantes com o máximo rigor. Na justificativa para tanta truculência ficaria a resposta: a polícia não agiu, mas apenas reagiu aos ataques.
 
O discurso dos interlocutores do Palácio Anchieta e do próprio governador Renato Casagrande procurou exaltar os atos de vandalismo como objeto fim do protesto, tentando convencer a população de que o movimento cívico, que marcou as manifestações em todo o país, havia se descaracterizado, dando lugar a destruição gratuita e irresponsável ao patrimônio histórico e cultural do Estado. 
 
A segunda parte da estratégia da polícia foi prender o número máximo de pessoas que se encontravam pelas ruas ou até mesmo dentro dos ônibus que circulavam pelo Centro da Capital capixaba. Naquele momento, não importavam os motivos da prisão, mas apenas exibir à opinião pública que o Estado não era omisso e estava cumprindo sua função de restabelecer a ordem pública. 
 
Nos dias que se seguiram, o governador Renato Casagrande e representantes de instituições como a Ordem dos Advogados do Brasil no Espírito Santo e o Ministério Público Estadual repudiaram as ações de depredação do patrimônio público. Até o ex-governador Paulo Hartung, que andava desaparecido, deu o ar da graça para manifestar sua tristeza, lamentando os ataques ao Palácio Anchieta. Ele lembrou que a sede do governo estadual foi restaurada na sua gestão (2003 - 2010). Disse que lhe cortou o coração assistir os ataques à sede do governo. Doí também, principalmente no bolso do contribuinte, saber que o ex-governador "enterrou" R$ 25 milhões nas obras do "Posto Fantasma" de Mimoso do Sul, que nunca saiu do papel. 
 
Mas, voltando às ruas, com a ajuda da imprensa corporativa, o governo conseguiu alcançar seu objetivo. Parte da população, passou a repudiar os protestos e se pôr do lado do governo, que já havia conquistado pontinhos importantes com a população quando mexeu os pauzinhos para reduzir de R$ 1,90 para R$ 0.80 o valor da tarifa do pedágio na Terceira Ponte. 
 
As prisões, embora arbitrárias - prova disso foi que todos os 35 presos foram libertados -, serviram para o governo mostrar aos manifestantes que as forças policiais não aturariam mais a ação ativista classificada como criminosa. 
 
Esse conjunto de ações, inegavelmente, arrefeceu os movimentos populares, dando a impressão de que a onda de protestos fosse, pouco a pouco, perdendo força até esvair-se por completo. 
 
O movimento "Não é por 20", porém, deu a volta por cima. Um evento na rede social Facebook convoca a população para participar de um seminário no próximo sábado. A proposta do movimento é discutir a série de protestos que começou no dia 17 de junho e não parou mais, alcançando seu clímax com a ocupação da Assembleia Legislativa por 12 dias. 
 
Mas eles querem mais, porque já perceberam que podem mais. No evento do sábado, os manifestantes pretendem criar um regimento interno do seminário e organizar grupos temáticos que discutirão os mais variados assuntos: de cultura ao combate ao racismo, passando por questões como direitos humanos e mobilidade urbana. 
 
A equipe de mobilização do evento se comprometeu a convidar o governador Renato Casagrande  e os prefeitos da Grande Vitória para o seminário
 
Eles ainda não sabem se o governador e os prefeitos aceitarão o convite, mas de uma coisa eles tem certeza: os protestos não vão e não podem parar. Tanto que a próxima manifestação, sexto ato do "Não é por 20", volta às ruas o dia 6 de agosto. 
 
Se a estratégia do governo era minar o movimento, parece que não deu certo.

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