Domingo, 28 Abril 2024

O aparecer social

A cultura ocidental criou nosso mundo espiritual de valores, verdades e política.

É no modelo grego antigo que encontramos o cerne da moral que vivemos, o maniqueísmo exclusivista das faces de bem e mal, a classificação do belo e os parâmetros básicos para a educação humana, para a vida social e política no ocidente.

Gosto de refletir sobre as consequências do pensamento humano construtor desses valores, idealizador de condutas, pretenso normatizador das relações e definidor das virtudes e dos vícios.

Percebo que grande parte das pessoas que se atêm ao senso comum, de tão mergulhadas nessas construções ideológicas, não têm a menor condição de vislumbrar uma crítica a este modelo.

Friedrich Nietzsche, que pode ser considerado um pré-existencialista - segundo passo do pensamento ocidental liberto do domínio da igreja - promove uma crítica contundente a esta construção moral, que desconsidera a subjetividade humana e promove um modelo de ser baseado no "dever ser".

Nietzsche critica a miopia de enxergar o ser humano bom ou tendente a sê-lo (Sócrates), possível de construir pela educação (adestrando-o?), pela religião (conquistando-o), pela cultura (convencendo-o), pela razão (pensamento lógico) ou pela força, (mesmo que moral, submetendo-o). O filósofo também deixa claro a mola propulsora humana comum chamada "vontade de poder" - que em livre tradução diz: tudo que está vivo quer continuar a viver e ser mais forte. Bem, a partir de Nietzsche, ademais é idealismo filosófico.

É claro que o chamado "humanismo para o bem viver social" é um grande valor, mas enquanto valor comum, não é mais que uma construção ideológica, inclusive distante de nossa realidade. Para que o bem viver seja aplicável a todo ser humano, como condição natural, precisaria redundantemente que esta condição fosse, antes, garantida a todo ser humano. Mas é sabido que a condição de humano bate de frente com as desigualdades sociais geradoras de sub-humanos.

E agora?

Não obstante à crítica da razão instrumental feita na Escola de Frankfurt, vejo a necessidade da fiscalização de seu uso, junto aos organismos governamentais, para a construção de uma sociedade centrada na realidade humana. Sem ilusão idealista, voltada para possibilitar a construção do bem viver concernente às subjetividades, com menor intromissão nas vidas privadas e com a universalidade humanística voltada para garantias de dignidade humana às populações, antes da cobrança de adesão aos seus valores.

Talvez assim possamos nos livrar da hipocrisia aparente dos ditos "homens de bem, naturalmente enquadrados nos conceitos humanísticos" sempre atacados pelos maus, para vivermos a realidade humana da necessidade de viver e se tornar mais forte comum a tudo o que vive, inclusive o ser humano e as possibilidades de realização na vida social que lhes convenha.

Everaldo Barreto é professor de Filosofia

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