O avanço do eucalipto
As investidas da poderosa empresa Suzano no norte do Espírito Santo usam mecanismos jurídicos para continuar a expansão do deserto verde, com a afirmativa ilusória e distorcida de que "o futuro sempre esteve no nosso presente. Plantamos uma semente, que cresceu e floresceu. Suzano e Fibria, duas histórias, um único objetivo: uma empresa comprometida com as pessoas, a natureza e o planeta", como está na abertura do portal da empresa inserida em redes sociais.
Guardadas as devidas proporções, no norte do Estado há inúmeros registros de violações de direitos, conflitos de invasores oficiais da então Aracruz Celulose, depois Fíbria e atualmente Suzano, nas terras secularmente pertencentes a povos indígenas, quilombolas e pequenos posseiros, com o beneplácito dos governos federal, estadual e municipal.
Em troca de favores e da ilusória geração de emprego e renda, entre outros chavões ainda hoje utilizados por um modelo de desenvolvimento ultrapassado e que não leva em conta o meio ambiente e a vida animal e humana, a Suzano ergueu império econômico e plantou um deserto verde, extremamente nocivo do ponto de vista social, de valorização à vida.
Assim ocorre em Conceição da Barra, onde o plantio de eucalipto pode alcançar 48% do território do município e, não satisfeita, a empresa ainda pretende ampliar a área de monocultura, que emprega agrotóxico em larga escala, explora os recursos hídricos à exaustão, e causa impactos sociais, ambientais e econômicos há décadas.
A Prefeitura, contrária ao projeto, como demonstrou em audiência pública realizada de forma online pelo Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo (Idaf) na noite dessa quinta-feira (13), e, por isso, persona non grata, sequer foi convidada oficialmente para participar do evento. Seu secretário de Desenvolvimento Econômico, Saneamento, Habitação e Meio Ambiente, André Fantin, teve apenas cinco minutos para se manifestar, assim como todos outros inscritos. É sempre assim, pano rápido nessas antessalas de um cenário cruel de destruição.
O crescimento do deserto verde prossegue em sentido oposto ao que foi deixado para trás, a aridez das perdas presente no dia a dia de famílias desamparadas e, como em Macondo, poucos são os que ainda lembram as crueldades, as benesses do governo e os mecanismos jurídicos que encobrem memórias, o que faz tudo isso parecer um sonho, cheio de progresso e bem-estar.
Para a maioria, no entanto, a realidade é pesadelo e demonstra que Macondo também é aqui, e não só pelo que ocorre no norte do Espírito Santo, mas em vários outras regiões onde o poder econômico promove destruição e, por meio de artifícios dos mais diversos, mantém a vida em permanente sobressalto, dentro da "legitimação" fria das leis.
Veja mais notícias sobre Colunas.
Comentários: