Sábado, 27 Abril 2024

O caos do transporte público

Nosso transporte público é caro, sempre lotado, de má qualidade, inseguro, e quem o usa é discriminado por quem não precisa do serviço.

O sistema nos lembra até a época da escravidão, que foi legalmente extinta em 1888, há 135 anos, mas quando viajamos nos ônibus, onde trafega a maioria do povo trabalhador, com superlotação, veículos de má qualidade e viagens de duas horas, a realidade nos remete aos navios negreiros.

O transporte público, como a totalidade das atividades numa sociedade capitalista, está voltado exclusivamente para o lucro, sem nenhuma preocupação com as condições de conforto, segurança e acomodação adequada para os usuários, sejam eles idosos, com necessidades especiais, grávidas, estudantes ou crianças.

O povo trabalhador que precisa utilizar o ônibus, diariamente, conhece bem essas relações de desigualdade e violência implícita, quando seu ônibus circula pela periferia e subúrbios, onde mora a maioria dos usuários. Diferente das relações com o transporte público nos bairros nobres da cidade, a discriminação e o preconceito estão sempre presentes.

Uma sociedade onde o acesso à educação e à ciência é bem distinto e socialmente desigual, as práticas são sempre permeadas pela discriminação. Uns merecem o conforto e a maioria do povo é considerada como objeto, que pode ser tratado e transportado sem nenhum cuidado.

Pelas reações durante as viagens, nota-se a insatisfação com as condições dos veículos e a forma como são transportados. Normalmente, a maioria segue todos os dias em pé, durante as longas e desconfortáveis viagens que precisam fazer para cumprir seus compromissos.

É comum presenciarmos falhas mecânicas, seja na escada de acesso para cadeirantes, no sistema mecânico ou elétrico dos ônibus, além de acidentes, o que interrompem a viagem. Quem de nós, usuários diários, não se lembra de quantas vezes isso aconteceu?! Outro problema é a falta de segurança, inclusive contra assédio sexual e moral, no trajeto dentro dos ônibus e nos pontos de parada, em especial para mulheres, estudantes e crianças.

O desconforto faz ainda com que as viagens não prioritárias sejam evitadas para diminuir o sofrimento de todo dia, pois há uma diminuição dos ônibus nos feriados e finais de semana, o que impede o povo trabalhador, principalmente das periferias, de usufruírem as estruturas de lazer e cultura da cidade, o que não encontram em seus bairros.

No caso dos preços das passagens, somente uma pequena parcela de trabalhadores formais utilizam o vale-transporte, os informais e a maioria dos usuários não são beneficiados, por não terem um vínculo formal de emprego.

É necessário ressaltar, porém, que a maioria dos passageiros tem uma percepção positiva da forma profissional e segura de conduzir dos motoristas, que também sofrem, enquanto trabalhadores, os mesmos problemas.

A Grande Vitória, a cada dia, se torna uma metrópole, o que aumenta a necessidade da utilização de diversos modais de transporte além do ônibus, como aquaviário e veículos leves sobre trilhos, bastante utilizados nas grandes cidades, e um sistema de linhas de trens e o metrô de superfície. 

Quando se fala em linhas férreas, alguns se assustam e acham isso um sonho, porém se conversarmos com pessoas mais experientes, comentam que a região era servida por linhas férreas, com utilização de bondes, que transportavam passageiros do Convento da Penha até o cais de Paul, do centro de Vitória até Santo Antônio, Praia do Suá, Jucutuquara.

O que se percebe é que quem decide, pensa, organiza e executa o sistema de transporte público não o utiliza, o que afasta o sistema da realidade do povo. Ao utilizar o transporte público, o usuário deve sentir uma experiência agradável, se sentir bem e seguro.

É urgente um transporte público gratuito, seguro e de qualidade para atender a todos, sem distinção e discriminação de qualquer natureza.

Somos seres humanos, não mercadoria!

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Comentários: 1

José Carlos em Segunda, 28 Agosto 2023 10:01

Parabéns ao jornal Século Diário e ao seu colunista por tratar de um tema tão importante de uso diário da população. O transporte público merece uma atenção especial do poder atual, por ser uma das políticas públicas que atende as necessidades da sociedade tanto em mobilidade urbana, quanto em redução de emissão de gases poluentes, o que piora a qualidade do ar e a nossa saúde. Para isso é necessário que tenhamos vários tipos de modalidade de transporte, como automóveis, ônibus, aquaviário, ciclovias, calçadas decentes e as diversas modalidades de transportes ferroviários para atender as diversas necessidades de transporte e mobilidade urbana em nossas cidades.

Parabéns ao jornal Século Diário e ao seu colunista por tratar de um tema tão importante de uso diário da população. O transporte público merece uma atenção especial do poder atual, por ser uma das políticas públicas que atende as necessidades da sociedade tanto em mobilidade urbana, quanto em redução de emissão de gases poluentes, o que piora a qualidade do ar e a nossa saúde. Para isso é necessário que tenhamos vários tipos de modalidade de transporte, como automóveis, ônibus, aquaviário, ciclovias, calçadas decentes e as diversas modalidades de transportes ferroviários para atender as diversas necessidades de transporte e mobilidade urbana em nossas cidades.
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