Terça, 30 Abril 2024

O cerco está se fechando

 

A segunda etapa da operação Derrama – a primeira foi em dezembro último – teve seu clímax nesta terça-feira (15), quando a polícia cumpriu 26 mandados de prisão em vários municípios capixabas. Os detidos são acusados de envolvimento num esquema de contratação ilegal de consultoria, a CMS, que era encarregada de cobrar multas e recuperar créditos de grandes empresas, sobretudo as ligadas à atividade petrolífera. 
 
A CMS Consultoria levava uma gorda comissão (de 20 a 40%) do dinheiro “recuperado”. A outra parte do montante ficava para a administração municipal, e uma terceira, suspeita-se, era rateada entre os “facilitadores” dos contratos firmados com a consultoria, todos, obviamente, sem licitação.
 
Além do escândalo em si, que já é destaque no noticiário nacional desde as primeiras horas da manhã, o anúncio da prisão de sete ex-prefeitos evidencia a capilaridade da corrupção no Espírito Santo. Afinal, são nove prefeituras envolvidas num esquema idêntico. Ou seja, alguém fez, gostou e recomendou para o colega prefeito.
 
Por enquanto, tiveram as prisões decretadas os ex-prefeitos Guerino Zanon (Linhares), Edson Magalhães (Guarapari), Ademar Devens (Aracruz), Edival Petri e Moacyr Assad (ambos de Anchieta), Luiz Carlos Cacá Gonçalves (Aracruz) e Ananias Francisco Vieira (Marataízes). 
 
Chama atenção também o fato de as prisões revelarem que alguns ex-prefeitos faziam parte do mapa político do ex-governador Paulo Hartung. Não é novidade para ninguém que Hartung ajudou a eleger muitos deles. Nas eleições do ano passado, o ex-governador, literalmente, subiu nos palanques de Guerino Zanon e Edson Magalhães. Foi mal-sucedido nas duas tentativas: o primeiro foi derrotado por Nozinho Correa e o segundo ganhou, mas não levou. 
 
Petri e Assad, em Anchieta, assim como Cacá e Devens, em Aracrzu, foram prefeitos fidelizados ao governo Hartung. Os dois ex-prefeitos de Anchieta, só para citar um único exemplo, se desdobraram para abrir caminho para a entrada da Companhia Siderúrgica de Ubu no município, projeto de primeira importância para Hartung.
 
O desfecho parcial da Derrama, somado ao revés nas eleições de 2012 - com a derrota de seus aliados -, “encolheu” ainda mais o mapa de influência política de Hartung, cada vez mais sem espaço, desterritorializado. 
 
Não podemos desconsiderar também que as investigações da Derrama não são conclusivas. Isso significa que novas prisões podem ser anunciadas nas próximas semanas. 
 
Vale ressaltar que algumas pessoas, curiosamente, foram “esquecidas” nesta segunda fase da operação. Em outras palavras, o número de prefeituras envolvidas não bate com o número de prefeitos denunciados. Informações não oficiais dão conta que há mais pessoas “graúdas” envolvida, e que só não foram citadas neste momento por questões técnicas ou jurídicas. 
 
Em tempo: é preciso reconhecer o trabalho feito pelo Tribunal de Contas do Estado, até aqui, exemplar. O órgão teve peito para desvelar todo o esquema e apontar o dedo para os suspeitos, mesmo sabendo quem eram os denunciados. Quem continue assim.

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